Ferramenta funciona como um brechó virtual e já tem mais de mil usuários no Brasil.

Doar uma coisa por dia e, no final de um ano, ter 365 objetos a menos. Foi a partir desse desafio que Jessica Behrens, egressa do curso de Comunicação Organizacional da Faculdade de Comunicação (FAC/UnB), teve a ideia de desenvolver um aplicativo para trocar, doar ou vender produtos.


“Eu tinha livros, blusas, luminária, carteiras e vários objetos que eu não usava e poderia servir para alguém. Dava os artigos para amigos, colocava nas paradas de ônibus. Foi quando pensei que poderia existir algum aplicativo que me conectasse com quem estivesse ao meu redor e se interessasse pelo que eu tinha”, conta a jovem de 23 anos.


O plano virou coisa séria. Após conversas com amigos e alguns contatos, Jessica foi para a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, para desenvolver o aplicativo. Assim, surgia o tradr.


“É um Tinder para produtos, no qual toda pessoa pode criar um brechó virtual e expor objetos para venda, troca ou doação. É gratuito, simples, fácil e usa um sistema de geolocalização para conectar os usuários às redes de contatos do Facebook”, explica.


Funciona assim: o usuário cria uma conta e está apto a tirar foto do produto e fazer negócio no aplicativo. É possível visualizar o perfil de seus amigos, dos amigos de seus amigos e ver quais objetos estão disponíveis. Interessou-se por algo? É só abrir um chat e conversar com o dono do produto.


Para a ex-aluna da UnB, a iniciativa contempla um projeto muito maior. “É uma proposta de mudança de comportamento. Se você não usa uma coisa, venda, ganhe uma grana, troque com alguém, compre algo local, faça circular. Isso é economia de dinheiro, de recursos naturais e ainda uma oportunidade para conhecer pessoas legais”.


Além de fomentar o mercado de produtos usados, o aplicativo também é uma opção para pequenos artesãos, jovens designers e artistas exporem suas peças, incentivando a produção local e a economia colaborativa.


“O caráter inovador do tradr é conseguir captar o gosto de cada um, conectando as pessoas localmente e criando um senso de comunidade a partir de algo extremamente individual. A gente movimenta uma economia local, onde as pessoas se conectam com seus amigos, criam uma base e fazem acontecer”, aponta Jessica.


O aplicativo já tem mais de mil usuários no Brasil e conta com mais de mil produtos cadastrados. Está disponível para aparelhos que usam o sistema iOS e a previsão é de que, até o final do ano, possa ser baixado por usuários do sistema operacional Android.


STARTUP –
Com o tradr, Jessica entrou para o universo das startups, ou seja, dos empreendimentos com características de inovação, grande mercado em potencial, que crescem de forma muito rápida e em escalas exponenciais.


Em Harvard, a jovem e os colaboradores do aplicativo estruturaram uma empresa, que atualmente possui 11 integrantes, sete nos Estados Unidos e quatro no Brasil.


“Todo dia é um desafio. Seja ele tecnológico, econômico, mercadológico, estratégico, de programação e até emocional. Precisamos conseguir investidores, bons profissionais, estruturar o aplicativo da melhor forma possível, ter uma boa base e isso tudo num mercado extremamente difícil e competitivo”, pondera.


INCENTIVO –
A egressa do curso de Comunicação Organizacional ressalta como a graduação nessa área a ajudou no desenvolvimento do aplicativo. “Tive matérias e professores que me apresentaram o universo das novas tecnologias e da inovação. Aprendi muitas correntes teóricas sobre economia colaborativa, startups, marketing”, relata.


O tradr originou o trabalho de conclusão de curso (TCC) de Jessica, que também foi uma das juradas do evento Startup na Prática, promovido pela disciplina Planejamento e Gestão em Marketing.


“No mundo inteiro as pessoas estão valorizando a criatividade. Por isso, a disciplina busca orientar os alunos a trabalhar em equipes para proporem ideias de empreendimentos inovadores. Os projetos são apresentados nesse evento”, comenta Katia Belisário, professora da FAC.


Uma das ideias vencedoras neste ano foi o Piggy, um aplicativo que tem como objetivo educar e ajudar jovens a gerenciar finanças. “Temos a intenção de investir no projeto e estamos buscando pessoas e instituições que possam nos ajudar a desenvolvê-lo”, revela Victoria Cordeiro, aluna do curso de Comunicação Organizacional.


O projeto da equipe do estudante Eduardo Bittar – o Entregaê, aplicativo para entrega de comidas baseada geolocalização do seu grupo de amigos – também foi um dos vencedores do Startup na Prática.


“Aprendemos muito sobre nichos, mercado, segmentação de públicos e a lidar com o planejamento de marketing das nossas startups. Estamos estudando a viabilidade da proposta, mas pretendemos levá-la adiante”, destaca Eduardo.