Eles estão nos sinais de trânsito, em calçadas e embaixo de marquises de prédios, mas não são percebidos por mais do que poucos segundos pelos olhos da população. Nem mesmo são considerados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na realização do censo. Para desvendar quem são os moradores de rua do Distrito Federal, pesquisadoras da Universidade de Brasília (UnB) iniciaram em abril de 2010 um estudo que já está em fase final de elaboração. Dados preliminares mostram que há 2,5 mil moradores de rua no Distrito Federal. Os resultados finais serão divulgados em dois meses.
Para descobrir o tamanho dessa população, a professora Maria Salete Kern Machado, do Departamento de Sociologia, visitou abrigos de sem-teto e realizou entrevistas nas ruas. “Primeiro fizemos um levantamento que apontava em quais locais havia grande número de moradores de rua”, explica Maria Salete. Dentre eles, estão: a Rodoviária do Plano Piloto, as superquadras 306/307 Norte e lugares próximos a casas de abrigo no Gama.
A maior dificuldade de realizar a pesquisa é que moradores de rua são nômades. O censo brasileiro adota o conceito de população residente ou “de direito”. Ou seja, ela é enumerada no seu local de residência habitual. “Para fazermos um retrato fiel, precisávamos estabelecer um recorte. Decidimos fazer as entrevistas em 10 dias”, explica Bruna Gatti, mestre em Sociologia pela UnB. Maria Salete esclarece que os números se referem a esse período. “Os dados são flutuantes, mas podemos dizer que há, pelo menos, 2,5 mil moradores de rua no DF”, disse Maria Salete.
A intenção das pesquisadoras não é revelar apenas qual o gênero, a raça e a idade dessas pessoas. “Tentamos entender o que os levou a ir para rua. Com isso, queremos propor políticas públicas para essa população”, afirma Bruna. “Por qual razão eles acabaram nas ruas? É o desemprego? São homens e mulheres de fora da cidade que não conseguiram se estabelecer?”, questiona a professora Maria Salete. “A maioria de nós acha que é uma questão de escolha, mas não é”, completa Bruna.
O estudo, que chegou ao fim com ciclo de debates com moradores de rua na última semana, chamou atenção do Governo do Distrito Federal (GDF). No sábado, o governador Agnelo Queiroz assinou um decreto que institui o Comitê Intersetorial para Elaboração da Política para Inclusão Social da População em Situação de Rua no DF. “Acreditamos que devemos nos articular com diversas secretarias. Habitação, saúde, trabalho e educação são temas importantes para eles”, afirma Maria Salete. “Será que eles conseguem matricular um filho na escola? Como fazem para ser atendidos em um hospital?”, questiona Bruna.
Segundo ela, desde o início do estudo a intenção era dar voz aos moradores de rua. “Foram eles que disseram quais são as suas maiores necessidades. A ideia sempre foi que eles apresentassem as propostas de melhorias”, conta Bruna.