Um projeto que propõe o extrativismo sustentável de espécies do cerrado como estratégia de conservação do bioma e de complementação de renda de agricultores familiares rendeu à Universidade de Brasília uma conquista nacional. Coordenado pela professora Janaína Diniz, da Faculdade UnB Planaltina, o trabalho concorreu com mais de 1.200 projetos de todo o País e foi um dos oito agraciados - o único do Centro-Oeste - com o prêmio Santander Universidade Solidária. É o primeiro prêmio nacional conquistado pela Faculdade de Planaltina, um dos novos campi da UnB.
Com a premiação, a equipe coordenada por Janaína receberá R$ 50 mil para continuar o trabalho iniciado há cerca de dois anos junto ao assentamento Márcia Cordeiro Leite, situado na antiga fazenda Monjolo, a 15 km do campus de Planaltina. “O prêmio é uma grande conquista e resultado de muito esforço coletivo. Foi uma alegria receber essa notícia, pois havia projetos excelentes do Brasil inteiro que concorriam conosco”, conta Janaína Diniz, professora do curso Gestão do Agronegócio da FUP.
O nome do projeto premiado da UnB é Agregação de valor às espécies vegetais nativas do cerrado em áreas de reserva legal de produtores familiares do Distrito Federal e Entorno, mas ganhou o nome-síntese de Pequisação, em referência ao pequi, um dos frutos típicos do cerrado. Criado em 2010, o projeto executado pela UnB chegou a trabalhar, no início, com três comunidades de assentados rurais. Ele foi viabilizado pelo suporte financeiro do CNPq e do Decanato de Extensão da Universidade – onde é um Projeto de Extensão de Ação Contínua (PEAC) - e pela parceria com a Emater-DF, a Embrapa Cerrados, o Instituto Federal de Brasília e a Universidade Católica.
O Pequisação representa uma retomada, com nova configuração, do tema de extrativismo que Janaína abordou durante o doutorado, concluído em 2008 no Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB. Natural de Belém, Janaína pesquisou o extrativismo da castanha do Brasil, também conhecida como castanha do Pará, produto típico da floresta amazônica. “É a única castanha sem um sistema de produção nacional que é comercializada no exterior”, diz Janaína, que buscou avaliar uma nova configuração local para a cadeia produtiva regional.
NOVO FOCO - Em 2009, Janaína foi aprovada em concurso para ser docente da UnB. Embasada por sua formação em Engenharia de Alimentos, em Viçosa, e pela experiência das aulas sobre canais de distribuição de produtos alimentícios, Janaína retornou ao tema do extrativismo, desta vez com foco na realidade específica do cerrado. Ao preparar o envio do projeto para concorrer ao Prêmio Santander Universidade Solidária, a equipe da UnB resolveu centrar as atividades no assentamento Monjolo, onde há cerca de 80 famílias.
A equipe coordenada por Janaína - que reúne professores e estudantes de cursos como Gestão do Agronegócio, Gestão Ambiental e Educação do Campo - realizou um mapeamento dos principais locais de origem de frutos do cerrado e das demandas específicas dos estabelecimentos do ramo alimentício. O objetivo é estimular novas parcerias, que possam gerar renda para a comunidade. Com esse mapeamento, o projeto criou uma cartilha, para divulgação em restaurantes, informando onde os frutos do cerrado podem ser encontrados, garantindo maior divulgação do trabalho de cooperativas de assentados. A cartilha inclui receitas com frutos do cerrado.
O professor Rudi Henri van Els, do curso de Engenharia de Energia da Faculdade UnB Gama, onde é coordenador de Extensão, apóia o projeto Pequisação na área de infraestrutura. “Quando visitei o assentamento, o que me chamou a atenção foi o fato de várias famílias do Distrito Federal sobreviverem de forma quase invisível. Eles estão em um assentamento rural onde não tem água nem energia. É inaceitável que isso aconteça, especialmente numa área vizinha à capital do País”, analisa.
RECURSOS - O prêmio de R$ 50 mil será usado, de acordo com Janaína, para um trabalho, junto ao assentamento, de desidratação de frutos, como pequi, cagaita, jatobá e araticum. Os recursos também vão ainda ajudar a viabilizar algo que não foi possível na fase inicial do projeto. “O projeto era financiado somente como pesquisa. Agora, poderemos ajudar a aperfeiçoar a infraestrutura da área. Pretendemos colocar um ponto de energia e reformar a casa da fazenda para incentivar o turismo”, diz Janaína, que nessa terça-feira, 27, levará o troféu para a comunidade da fazenda Monjolo.
“Fico muito feliz com esse prêmio, que é um estímulo para o campusde Planaltina, integrado por uma equipe muito aguerrida, que atua para desbravar o potencial da área”, afirma a decana de Extensão, Thérèse Hofmann, que foi colega de Janaína no doutorado do CDS. “Projetos como esse são importantes para fortalecer a presença da UnB no Entorno e mostram que a sociedade, que nos financia, está ali para fazer a diferença.”
MISSÃO - Luiz Antônio Pasquetti, diretor da Faculdade UnB Planaltina, acrescenta que o projeto premiado se insere na missão principal da Faculdade, pois envolve a questão ambiental na formação de gestores do agronegócio. “O prêmio coroa um trabalho de pesquisa que está sendo feito em Planaltina e dá mais visibilidade à UnB, pois havia um grande número de bons projetos concorrendo”, afirma.
Janaína recebeu o prêmio Santander, em São Paulo, ao lado da assessora de Relações Internacionais da UnB, Ana Flávia Barros – ela representou o reitor Ivan Camargo, que participava de reunião da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes).
O prêmio é concedido pelo Santander Universidades, braço acadêmico da instituição bancária, nas categorias Empreendedorismo, Ciência e Inovação, Universidade Solidária e Guia do Estudante – Destaques do Ano. Nesta 8ª edição do evento, foram premiados 21 projetos, que receberam mais de R$ 1 milhão, incluindo bolsas de estudo nos EUA. Para a atual edição foram inscritos, em todas as categorias, 10.252 projetos de 599 universidades, um número 67% a maior que em 2011.
Além da UnB, foram premiados na categoria Universidade Solidária projetos do Centro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e das universidades federais de Alagoas (UFAL), da Bahia (UFBA), de Ouro Preto (UFOP), do Piauí (UFPI) e de Viçosa (UFV).