Terapia fotodinâmica desenvolvida na UnB propõe novo tratamento para micose

Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

Inflamação; alteração da cor da pele nas falanges; atraso do crescimento das unhas; encravamento e ainda limitação para frequentar piscinas. Essas são algumas das consequências da onicomicose, uma infecção causada por fungos que atacam especificamente as unhas dos pés. Comum em idosos ou em indivíduos com outros problemas de saúde – ou seja, pessoas que já usam vários tipos de medicação –, ela também pode ser transmitida pelo uso compartilhado de sapatos e meias. Ao analisar uma nova abordagem para tratamento da doença com o uso de terapia fotodinâmica (TFD), o dermatologista Luciano Morgado desenvolveu mestrado em nanociência e nanobiotecnologia na Universidade de Brasília.

 

Orientado pelo professor João Paulo Longo, Morgado realizou o tratamento em 20 pacientes para escrever o trabalho, cujo tema é Terapia Fotodinâmica com Nanoemulsão de Alumínio Cloro Ftalocianina para Tratamento de Onicomicose. O objetivo foi encontrar uma abordagem terapêutica alternativa para a onicomicose, pois geralmente é adotada medicação de uso oral, que leva cerca de seis a 12 meses para a cura.

 

Além de durar um tempo considerável e, por isso, ter alta taxa de abandono, é comum que esse procedimento provoque reações adversas nos pacientes. "O tratamento atual apresenta uma série de restrições aos doentes, como comprometimento hepático, incompatibilidade com outras medicações", explica João Paulo Longo. "Tem gente que não quer usar o tratamento oral e tem gente que não pode", continua.

 

TERAPIA – A TFD é uma técnica que consiste na aplicação de um fármaco fotossensibilizador (cujas moléculas são ativadas pela incidência de luz) e de feixes luminosos direcionados. A luz ativa a substância que, então, libera espécies reativas de oxigênio – comumente chamadas de radicais livres – que agem nas células próximas. No caso analisado por Morgado, o oxigênio singlete age nas células fúngicas.

 

Dermatologista Luciano Morgado desenvolve técnica para tratar onicomicose. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

"Temos registrado 60% de cura, tanto na análise clínica quanto na micológica, o que é satisfatório. Com tratamento tradicional, a cura fica por volta de 60% a 65% dos casos. Trata-se de uma infecção muito difícil de tratar", diz Morgado. "Realizamos exame de sangue antes e depois da terapia para demonstrar que não há efeito colateral", detalha.


Foram realizadas sessões de terapia a cada 15 dias. No total, ocorreram cerca de 6 a 7 aplicações. Até o momento, o estudo demonstra que a TFD funciona como tratamento mais rápido em comparação aos tradicionais – leva cerca de três a quatro meses para obter resultado.


Na pesquisa de Morgado, o fármaco fotossensibilizador utilizado é o alumínio-cloro-ftalocianina. Ele é exposto a raios de luz do espectro vermelho, por ser aquele que penetra mais profundamente na pele. "A pesquisa serve como plataforma para intervenção em outras infecções superficiais", comenta João Paulo Longo. Nos tratamentos dermatológicos, a TFD já é usada para a cura de câncer de pele.

 

Segundo o professor da UnB João Paulo Longo, a TFD tem potencial de gerar economia em diversos tratamentos. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

BENEFÍCIOS – A abordagem da terapia fotodinâmica tem sido alvo de diversos estudos. Em parte, pelo potencial de gerar economia nos tratamentos de saúde, pois é feita em ambiente laboratorial.


"No caso do uso da TFD para o tratamento de câncer, por exemplo, outro benefício é a redução da quantidade de cirurgias e a consequente diminuição das despesas com recursos humanos no processo, ou seja, a quantidade de profissionais da saúde. Isso faz com o que o serviço médico tenha um custo mais baixo", encerra João Paulo Longo.