Combinando tecnologia e inovação na área da saúde, um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (IB/UnB) e do Instituto de Química (IQ/UnB) registrou recentemente uma patente em parceria com a empresa CPMH, que desenvolve soluções cirúrgicas. A inovação envolve o uso de nanopartículas de grafeno para melhorar as propriedades mecânicas de próteses faciais.
Ao todo, participam do grupo de pesquisa seis docentes, um estudante de pós-doutorado e um doutorando. As instituições estabeleceram colaborações e parcerias técnico-científicas a partir do projeto de pesquisa Nanomateriais inseridos em plataformas fabricadas por impressão tridimensional para aplicações em saúde.
Coordenado pela professora Sônia Báo, o projeto foi selecionado em chamada pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em 2020, mas só teve início em 2022, devido à pandemia de covid-19.
“Esse é um projeto guarda-chuva, que nos permitiu trabalhar em várias linhas de pesquisa, como a das próteses usando a impressora 3D, por exemplo”, explica Sônia.
A professora comenta que o projeto possibilita a continuidade de estudos iniciados há décadas. “Permite a ampliação e investigação da aplicabilidade da nanoestrutura e da impressão 3D, buscando resolver problemas de saúde de maneira geral”, revela.
PESQUISA – Agora patenteado, o estudo desenvolvido pelo doutorando em Biologia Animal Thyago Pacheco – também graduado em Biotecnologia e mestre em Nanociência pela UnB – está inserido em uma das linhas de pesquisa do projeto. Por meio da aplicação do grafeno, foi possível aumentar os padrões de resistência e durabilidade das próteses mandibulares, em comparação com as já existentes no mercado.
“Realizei os primeiros testes incorporando o grafeno à prótese facial, mas ele pode ser utilizado em outras articulações do corpo”, esclarece Thyago. Ele explica que esse tipo de prótese substitui a articulação temporomandibular, responsável pelo movimento de abrir e fechar a boca, além das ações de mastigar, bocejar, falar e cantar.
Ela é usada para reconstruir parcial ou totalmente a articulação de pacientes com dor, disfunção ou mutilação anatômica. Casos comuns para indicação de uso incluem perda da articulação, fraturas não reparadas, necrose vascular, distúrbios congênitos e doenças inflamatórias e degenerativas graves.
Para o pesquisador, o principal ganho com a pesquisa é ampliar o tempo de utilização da prótese. “A peça hoje produzida pela indústria é feita de poliestireno de alto peso molecular, mas tem um grande problema, pois a durabilidade é de cerca de 15 anos. Depois precisa ser substituída”, comenta. A durabilidade exata da prótese em estudo será determinada em etapa de pesquisa posterior, contudo, é certo dizer que será superior a daquelas disponíveis no mercado.
A Prótese Mandibular de Polietileno Modificada com Óxido de Grafeno, como é chamada no estudo, foi testada em diferentes níveis de complexidade, resultando em aumento da resistência, durabilidade e personalização da prótese.
“Nosso objetivo é justamente melhorar as próteses com a incorporação do grafeno, e os testes laboratoriais mostraram resultados muito positivos”, diz o cientista. Ele comenta que a próxima fase é confirmar nos testes clínicos os bons resultados obtidos em laboratório.
Outro ponto positivo da inovação, apontado pelo professor João Paulo Longo, membro do grupo de pesquisa, é a possibilidade de a tecnologia ser uma solução mais eficaz para quem depende do dispositivo, trazendo benefícios na adaptação, mastigação e fala.
Isso porque, com a aplicação da tecnologia tridimensional, é possível a personalização da prótese, antes comercializada em tamanhos padrão P, M e G. “Imagine poder escanear e reproduzir uma peça exatamente do tamanho de cada indivíduo. Isso possibilita uma melhor adaptação e resultados mais satisfatórios”, afirma João Paulo.
FUTURO – Segundo os pesquisadores, estima-se que mais de meio milhão de próteses desse tipo sejam extraídas para substituição anualmente, apenas nos Estados Unidos, refletindo a magnitude do problema em escala global. Eles estimam que, além do impacto na qualidade de vida dos pacientes, o novo item deve reduzir os custos associados às substituições periódicas das próteses.
“Esse tipo de pesquisa realmente transforma a sociedade e traz benefícios a curto e longo prazo. Ela melhora a qualidade de vida e a saúde pública, unindo ciência e tecnologia para aprimorar a saúde”, reflete o professor. “Essa prótese reduzirá despesas públicas, já que as atuais precisam ser substituídas, gerando altos custos”, comenta.
A equipe menciona que os próximos passos da pesquisa envolvem a realização de estudos clínicos para validar a eficácia e a segurança da nova tecnologia, conforme exigido pelas regulamentações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa etapa crucial permitirá que a tecnologia patenteada avance do laboratório para o mercado.
Eles reforçam a relevância da obtenção de patente, pois demonstra o avanço do projeto e o potencial inovador da Universidade, ao permitir a divulgação da pesquisa sem comprometer a propriedade intelectual. O Núcleo de Propriedade Intelectual (Nupitec/CDT/UnB) é a área responsável pela proteção e gestão das tecnologias desenvolvidas na UnB.