Foram necessárias oito viagens, de março de 2015 a setembro de 2016. Galápagos, Patagônia, Chile, Terra do Fogo, Rio de Janeiro, Salvador, Fernando de Noronha e Arquipélago de São Pedro e São Paulo, respectivamente, foram visitados para refazer os caminhos trilhados pelo jovem naturalista inglês Charles Darwin a bordo do navio HMS Beagle, entre 1831 e 1836. A incursão do pesquisador foi relatada na obra O Diário do Beagle, até hoje campeã de vendas nas livrarias.
Formada por sete especialistas, a equipe multidisciplinar intitulada Bando de Investigadores com Garra e Ousadia (BIGOU) refez o périplo. O intuito foi “difundir para os jovens o modo do funcionamento do pensamento científico. Darwin é um exemplo de como isso se dá”, explica Gilberto Lacerda, professor da Faculdade de Educação (FE) da Universidade de Brasília, especialista em informática educativa e coordenador do projeto.
O resultado da empreitada, chamada de O Diário do Bigou, pode ser conferido no site do Museu Virtual da UnB. Dividido em duas partes, o portal digital apresenta contextualização da iniciativa e o percurso propriamente dito. Tudo munido de fotografias, vídeos, relatos, links com instruções pedagógicas (voltadas a professores), espaço com informações sobre Darwin e a Teoria da Evolução, bastidores, roteiro de viagem.
Outros dois especialistas em informática educativa, Claudia Motta e Mauro Pequeno, um fotógrafo-historiador, João Paulo Barbosa, dois geógrafos, Iara Nocentini e Hernani Loebler, e uma bióloga, Shirley Hauff, integram o grupo. Além da UnB, os pesquisadores são oriundos da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Estadual Paulista (UNESP).
O projeto conta com suporte do Ministério das Cidades (Departamento Nacional de Trânsito), do CNPq, da FAPDF, da Marinha do Brasil, além do apoio das universidades mencionadas. O portal é voltado para estudantes a partir de 14 anos de idade. Dessa forma, foca em atividades multiplataformas, com links para Facebook e Youtube, por exemplo.
DARWIN – Tendo O Diário do Beagle como guia, os pesquisadores do Bigou procuram ver o que Darwin viu, andar onde Darwin andou e fazer registros afetivos e fotográficos das mesmas paisagens que ele desenhou com sua própria mão. “Percorremos os caminhos de Darwin para verificar se teríamos os mesmos insights dele para elaborar a teoria da evolução. Estudamos em centros de pesquisas nessas localidades”, relata Lacerda. A viagem do jovem pesquisador inglês “formatou algumas das mais extraordinárias páginas da história da Ciência e deu origem à Teoria da Evolução das Espécies por meio da seleção natural, publicada há 157 anos, naquele que é considerado um dos três livros mais influentes da humanidade: A Origem das Espécies”, comenta.
O percurso por várias regiões do hemisfério sul foi cenário para a efervescência criativa do jovem cientista, que foi juntando informações e elaborando uma explicação para o que via à sua volta. “Como em um quebra-cabeças cuja montagem constitui um excelente exemplo do modo de funcionamento do pensamento científico”, avalia o professor da FE.
Ao visitar lugares, observar paisagens, pessoas, plantas e animais, Darwin fez indagações, constatações e, por fim, propôs uma teoria revolucionária, que mudou a forma do pensamento da época. Não só sobre o mundo natural, mas também a religião, a história e a sociedade.
“Acreditamos que os jovens possam se identificar com Darwin, até porque ele próprio era um jovem quando fez a viagem no Beagle. A ideia é observar a vida dele e como se deram os caminhos intelectuais”, conta Lacerda.
“O que se espera é que entendam que o pensamento científico não é algo extraordinário, de outro mundo; que um jovem como ele foi capaz de avançar na formulação científica. E que possam se interessar pela ciência, leitura, biologia, antropologia, informática, fotografia”, encerra.