Embora ainda precise de ajustes, o kit de diagnóstico precoce da dengue representa grande avanço no combate à doença, já que os exames utilizados atualmente só conseguem identificar a epidemia a partir do sétimo dia; antes disso, em geral, a sorologia não revela alterações. O diagnóstico precoce permite que a dengue seja tratada prévia e corretamente e pode evitar que ela seja confundida com outras patologias ou que evolua para o estágio hemorrágico, mais grave. Raissa Allan Santos Domingues desenvolveu, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um protótipo de kit que pode identificar a presença de dengue a partir do terceiro dia da infecção. O novo método detectou a doença em 96,4% das amostras em que foi testado, nas quais a epidemia já estava confirmada. O estudo foi desenvolvido nos últimos dois anos, nos laboratórios da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e na capital do Rio de Janeiro. Orientada pelo professor Tatsuya Nagata, especialista em Virologia Molecular, Raissa Domingues concluiu o mestrado em Patologia Molecular.
O kit é composto por antígenos da proteína NS1, que detectam os anticorpos produzidos pelos pacientes infectados. Existem quatro tipos diferentes da doença; a pesquisa não incluiu o primeiro, mas o resultado com amostras da dengue tipo 4 foi positivo, com mais de 98% de acerto.
Além de possibilitar melhorias no sistema de saúde pela rapidez dos resultados, o kit também pode representar uma solução econômica viável para o diagnóstico precoce da dengue. Embora a análise de custos ainda não tenha sido realizada, Raissa Domingues estima que a diferença de preço entre o kit que desenvolveu e os que já existem deve ser “significativa”, pelo fato de o primeiro ter sido produzido no Brasil, e não no exterior.
O kit também conseguiu identificar amostras de febre amarela, rubéola e sarampo. Para prosseguir com o aprimoramento do projeto, Raissa pretende viajar para o Rio de Janeiro, onde retoma os testes com o kit de diagnóstico da dengue. O estudo também teve participação de Flávia Barreto e Monique Lima, da Fiocruz, e Daniel Mendes, da UnB.