Índices do IBGE indicam que um terço das crianças brasileiras estão obesas.

Da UnB Agência

Trinta e três por cento das crianças brasileiras estão acima do peso. O dado é da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisadoras da Universidade de Brasília garantem que a cultura alimentar contemporânea é dinamizada por propagandas publicitárias. A solução para o problema seria a intervenção do Estado, com medidas como a regulamentação da publicidade de alimentos com excesso de gordura, sal e açúcar para crianças.


O projeto de pesquisa e extensão PropagaNUT – Alimentação nas diferentes mídias atua desde 2005 no estudo da publicidade de alimentos e seus efeitos nos hábitos alimentares. A iniciativa tem foco maior no público infantil, “pois a criança, até os 12 anos de idade, não tem condições cognitivas de avaliar o efeito da publicidade sobre ela”, defende a professora Renata Monteiro, coordenadora do projeto. “O problema é maior entre crianças de 5 a 9 anos, que são mais suscetíveis à publicidade e tem tendência ao ganho de peso”, destaca.


Segundo a pesquisadora, as crianças começam a consumir alimentos pouco saudáveis não necessariamente pelo sabor. “Ela vai ao fast-food motivada pelo brinde, que é colocado para que os pequenos sejam apresentados a esses alimentos”, afirma Monteiro. Outra forma de estímulo utilizada pelas empresas é a produção de embalagens com personagens conhecidos. Além disso, os alimentos ricos em gorduras, sal e açúcar agradam o paladar das crianças. “Temos sensações fisiológicas que são despertadas por esses alimentos”, explica a professora.

Emília Silberstein/UnB Agência
A professora Renata Monteiro é coordenadora do projeto PropagaNUT

Para estimular a discussão sobre o tema, o PropagaNUT exibiu o documentário Muito além do peso, que reflete sobre os riscos de tantas crianças brasileiras pesarem mais do que deveriam. A sessão ocorreu na noite desta segunda-feira (8), na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, e foi seguida de debate. A produção tem depoimento da professora do Departamento de Nutrição Elizabetta Recine, membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). O longa-metragem é uma produção da Maria Farinha Filmes, patrocinada pelo Instituto Alana, e pode ser baixado gratuitamente no site do filme. 


RISCOS -
 Para Elizabetta Recine, a situação “é triste agora e pior quando se pensa a médio e longo prazo”. A pesquisadora destaca que, em razão da obesidade infantil, crianças tem desenvolvido doenças até então características de adultos, como diabetes do tipo 2, depressão e problemas no coração. No combate ao sobrepeso, os pais não seriam os únicos responsáveis pela educação alimentar de seus filhos. “A indústria tem o discurso de que a culpa é do pai que não regula, mas é muito difícil para quem está educando ir contra um universo fantasioso”, defende Monteiro. 

“O Estado tem papel fundamental”, afirma a professora Elizabetta Recine. Ela ressalta que a alimentação da criança deve ser orientada desde muito cedo. "Os hábitos alimentares são definidos desde os primeiros anos de vida”, conta Recine. A professora Renata Monteiro destaca a importância da intervenção estatal na apresentação dos alimentos para os mais novos. "O público infantil é hipossuficiente e precisa da proteção da regulação da publicidade”, defende.

 

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