Pacientes do Hospital Universitário de Brasílita se engajam como voluntários em estudo inédito na área.

Atividade física e fortalecimento muscular são alternativas eficazes no alívio da fadiga, um dos sintomas gerados pelo lúpus, doença que ataca o sistema imunológico e acomete 2% da população brasileira. Essa é a conclusão do professor de Educação Física, Sandor Balsamo, em estudo desenvolvimento pelo programa de pós-graduação em Ciências Médicas. Após testes com 10% das pacientes que tratam a doença no Hospital Universitário de Brasília, o pesquisador comprovou a necessidade desse tipo de prática como um procedimento terapêutico importante a ser conjugado ao tratamento tradicional das pacientes que sofrem do mal.


O pesquisador investigou as mulheres porque são elas as vítimas mais comuns da doença. Caracterizada por sintomas como fraqueza muscular, comprometimento motor e fadiga, a doença autoimune conhecida como lúpus eritematoso sistêmico (LES) acomete principalmente mulheres em idade fértil. “A ênfase tradicional é a farmacológica, medicamentosa, geralmente a base de corticorteróides, medicamentos que apresentam grandes efeitos colaterais, como a própria redução das aptidões físicas”, adverte o pesquisador. O mal compromete seriamente o funcionamento de diversos órgãos e traz inegáveis prejuízos à qualidade de vida de cerca de dois milhões de pessoas no Brasil.


Por dois anos consecutivos, Sandor frequentou sistematicamente o ambulatório de Reumatologia do Hospital Universitário de Brasília para realizar uma triagem de pacientes que se enquadrassem nos critérios ideais para sua pesquisa: mulheres clinicamente estáveis, ou seja com a doença farmacologicamente controlada, com idade entre 18 e 45 anos. De 240 pessoas observadas e entrevistadas, chegou a 25 pacientes, as quais foram submetidas a exercícios específicos de treinamento de força, em cadeira extensora/flexora. Igual número de pessoas do sexo feminino, em faixa etária similar, foi também avaliado, no mesmo período, embora com carga 25% mais pesada. As sessões ocorreram no centro de musculação da Faculdade Unieuro, onde Sandor é professor há sete anos.


Seu objetivo foi demonstrar como a fadiga persiste como um sintoma que prejudica o dia a dia dessas pacientes, sendo necessário um condicionamento continuado para contornar um mal que compromete o ânimo e a qualidade de vida.


QUALIDADE DE VIDA -
 Sandor avalia que “embora seja necessário o uso de corticóides para controlar a doença, os quais são responsáveis, inclusive, pelo aumento da sobrevida dos pacientes lúpicos, essa utilização medicamentosa traz graves efeitos adversos ao sistema cardiovascular, como aterosclerose e elevação do risco de infarto agudo do miocárdio em até sete vezes, em comparação à população saudável”.  Segundo observa, “o sintoma da fadiga está associado à redução da aptidão física (força muscular e capacidade cardiovascular), o que, consequentemente, repercute na realização das atividades de vida diária, gerando cansaço e desânimo crônicos”.


De acordo com o orientador da pesquisa, o professor Leopoldo Luiz dos Santos Neto, “além de agregar ao tratamento o fator da qualidade de vida, associando atividade física a saúde, o trabalho de Sandor tem o grande mérito de ter sido realizado em um hospital universitário, uma instância do Sistema Único de Saúde que tem em sua estrutura um centro de referência em atenção a pacientes com lúpus”. O Hospital Universitário atende pessoas com esse diagnóstico desde 1974 em um trabalho conduzido por Francisco Aires Corrêa Lima, médico reumatologista do HUB, recentemente aposentado.


Para Sandor, “em uma situação de tratamento regular, essas pessoas podem dispor da prerrogativa de sonhar, ter projetos, produzir, viver com mais qualidade, desde que minimizando os efeitos adversos dos medicamentos, o que é possível a partir de uma atividade física monitorada”. O professor de educação física avalia ainda a importância de que o sistema público de saúde incorpore essa prática como procedimento regular.


Saiba mais:

Lúpus eritematoso sistêmico é uma doença rara, na proporção de nove mulheres para cada homem. No Brasil, a incidência é de 8,7 novos casos por 100 mil habitantes por ano. O HUB conta com ambulatório para acolhimento de pacientes com diagnóstico de lúpus. O atendimento é realizado no serviço de Reumatologia, no Ambulatório I.