A fragilidade no contexto do envelhecimento é um tema que tem recebido atenção especial de cientistas da Universidade de Brasília. Essa condição afeta idosos e se caracteriza por um declínio progressivo de diversos aspectos físicos e sociais, o que torna essa população mais suscetível a problemas de saúde graves, como incapacidade, quedas, institucionalização, hospitalizações e, em casos extremos, a morte. Além disso, aumenta os custos e a demanda por serviços de assistência à saúde, exercendo pressão significativa sobre os sistemas de saúde.
“Estima-se que aproximadamente um em cada seis idosos seja afetado pela fragilidade. A boa notícia é que diversas intervenções têm sido avaliadas quanto à sua eficácia em retardar esse processo”, relata o professor João Durigan, líder do Laboratório de Plasticidade Musculotendínea (LaPlasT) da UnB Ceilândia (FCE). “Entre essas intervenções, o treinamento resistido e a suplementação proteica surgem como protagonistas, destacando-se pela eficácia e facilidade de implementação”, completa o cientista.
Ao lado de pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Durigan e colegas da Universidade de Brasília publicaram em outubro, na revista Ageing Research Reviews (Fator de Impacto 13.1), artigo científico que destaca a influência de variáveis cruciais do treinamento resistido – incluindo intensidade, duração e frequência – na melhoria do desempenho funcional em idosos frágeis e pré-frágeis.
O treinamento resistido, conhecido por envolver a realização de exercícios contra resistência, seja com o próprio peso corporal ou contra resistência externa, desponta como uma estratégia eficaz para fortalecer a musculatura e melhorar a função física de idosos saudáveis e frágeis. Os efeitos dessa abordagem dependem de uma série de fatores, como a duração, a frequência, a intensidade, o volume e os intervalos de descanso do treinamento resistido proposto.
Cristiane Nagata, doutoranda na Faculdade de Educação Física (FEF) da UnB e primeira autora do estudo recém-publicado, explica que o objetivo primário do estudo foi “verificar se existe uma relação entre a dose prescrita nas variáveis do treinamento resistido e o desempenho funcional de idosos pré-frágeis e frágeis”.
A professora Patrícia Garcia, líder do grupo de pesquisa Pesquisas sobre Envelhecimento e Quedas em Idosos (Pequi/FCE), destaca que as descobertas do grupo “estabelecem, de forma inequívoca, associações de algumas variáveis do treinamento resistido com mudanças clinicamente importantes no desempenho funcional de idosos pré-frágeis e frágeis”.
O professor Durigan reforça ainda que, para obter o máximo benefício do treinamento resistido, a frequência e o volume desempenham um papel crítico. “Descobrimos que realizar pelo menos duas sessões de treinamento resistido por semana é essencial para melhorias funcionais, e melhores resultados são observados com três sessões semanais”, descreve. “No entanto, é importante observar que volumes de treinamento excessivamente altos podem não ser bem tolerados por idosos frágeis, possivelmente até sendo contraproducentes”, alerta.
“As descobertas do estudo são animadoras e sugerem que o treinamento resistido é uma estratégia valiosa para idosos que buscam manter ou recuperar sua independência”, diz o docente, sobre a relevância e aplicabilidade do estudo.
Para a efetiva melhoria do desempenho funcional em idosos frágeis e pré-frágeis, os pesquisadores advertem ser primordial a realização de uma avaliação físico-funcional do paciente, para determinar as prioridades do tratamento. A abordagem precisa ser personalizada para atender às necessidades específicas de cada idoso.
“Se a principal limitação do paciente está no desempenho para sentar e levantar na cadeira, então o treinamento resistido, com inclusão do fortalecimento de abdutores de quadril, deve ser o foco principal do tratamento. Porém, se a maior necessidade do paciente está na melhoria da velocidade de marcha, talvez a inclusão de um treino multicomponente, incluindo exercícios resistidos com foco em abdutores de quadril, exercícios de equilíbrio e marcha possa ser mais benéfico”, exemplifica Durigan.
Além dele, de Nagata e de Garcia, assinam o estudo pela UnB os docentes Rochelle Rocha Costa (FEF) e Josevan Cerqueira Leal (FCE) e as pesquisadoras Mônica Batista Duarte Caetano (PPGCR) e Júlia Aguillar Ivo Bastos (PPGCR).
*com a colaboração de João Durigan.