Dissertação e Trabalho de Conclusão de Curso de estudantes de Engenharia propõem a utilização dessa fonte como alternativa para a matriz elétrica do país

 

Foto: Júlio Minasi/UnB Agência

Dois trabalhos acadêmicos desenvolvidos na Faculdade de Tecnologia (FT) da Universidade de Brasília foram publicados pela ONG WWF-Brasil. Sob o título Mecanismos de suporte para inserção da energia solar fotovoltaica na matriz elétrica brasileira: modelos e sugestão para uma transição acelerada, a publicação reúne informações da dissertação defendida por Helena Magalhães Mian e do Trabalho de Conclusão de Curso de Vítor Augusto de Souza Mota, ambos da Engenharia Elétrica.


Em sua pesquisa, Helena Mian foca a regulação do setor e apresenta um estudo sobre a concessão de incentivos para geração de energia solar fotovoltaica em sete países; ela também sugere quais deles manter no Brasil. Já Vítor Mota traz um plano de ação com um modelo de redução gradual do uso de termelétricas fósseis – alternativa cara para o cenário brasileiro – a partir do aumento da oferta de energia fotovoltaica, capaz de gerar uma economia de R$ 7,5 bilhões por ano aos cofres públicos.


“Tentei comparar o que estava acontecendo no Brasil e nos países que tinham a maior participação de energia solar fotovoltaica no mundo, de acordo com a Agência Internacional de Energia no ano de 2013 – Alemanha, China, Itália, entre outros. O foco sempre foi no que seria melhor para a sociedade brasileira, o que custaria menos”, afirma Helena.


“Estudei o que eles fizeram, quais eram os mecanismos de suporte utilizados (como tarifa premium, empréstimos subsidiados, compensação financeira). Se no Brasil fosse colocada uma linha de crédito específica para os consumidores que querem gerar sua própria energia, como existe lá fora, isso poderia fazer com que a energia solar distribuída fosse muito vantajosa para o Brasil.”

 

Pesquisa de Helena Mian aborda regulação do setor elétrico em vários países. Foto: Júlio Minasi/UnB Agência

Segundo Helena, estudos mostram que a grande dificuldade da geração solar distribuída hoje no Brasil é a falta de recursos para o investimento inicial, estimado em R$ 30 mil, no caso de consumidores comuns. Em relação ao país, Vítor Mota conta que, após os cinco primeiros anos, o investimento em energia solar fotovoltaica já se mostraria vantajoso em relação ao modelo atual.


“Se o governo optar em continuar na contratação emergencial de térmicas fósseis, de acordo com o que vem sendo praticado até o momento, em cinco anos teria que investir mais de R$ 170 bilhões. Pela proposta de transição apresentada, a partir do sexto ano, os custos de contratação de energia nova seriam baixíssimos, já que os sistemas solares mantêm a mesma capacidade de produção por até 25 anos, sendo necessários apenas os gastos de operação e manutenção. O investimento público inicial maior aconteceria nos três primeiros anos da transição deste programa”, explica Mota.


Sobre os benefícios ambientais e econômicos, ele ressalta que a diversificação das fontes traria maior segurança ao setor energético, além de uma possível redução nos custos de transmissão de energia, menos emissão de gases causadores do efeito estufa – energia solar fotovoltaica é fonte limpa – e a criação de vários postos de trabalho, demonstrada na experiência de outros países.


De acordo com o coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, André Nahur, “o estudo é um exemplo de que, com os incentivos adequados, podemos reduzir custos do governo e da população, ao mesmo tempo em que caminhamos para um cenário de energia cada vez mais limpa”.

 

Vítor Mota propõe modelo de redução gradual no uso de termelétricas fósseis. Foto: Júlio Minasi/UnB Agência

UnB – Helena Mian e Vítor Mota destacam o papel da Universidade de Brasília no estímulo à pesquisa. “Foi importante a liberdade que tive para poder colocar as ideias no papel. Dentro do tema ‘energia solar’, pude escolher e conduzir o trabalho com certa autonomia. Nem sempre em trabalhos de conclusão de curso há esse grau de liberdade para tratar do tema desejado. Muitas vezes pode ser necessário se ater a tópicos pré-escolhidos pelo professor”, relata Vítor.


“No Departamento de Engenharia Elétrica tem muita gente boa, é legal esse reconhecimento das pesquisas e dos alunos da UnB. É importante também para a instituição continuar investindo em pesquisa, pois é dessa pesquisa que nascem novas tecnologias ou que barateiam as tecnologias que já existem”, diz Helena.

 

ORGULHO – O professor da UnB Rafael Shayani, orientador de um dos trabalhos e coorientador do outro junto com o professor Marco Aurélio Gonçalves de Oliveira, reconhece a importância de uma publicação como essa realizada pela WWF-Brasil. “Muitas vezes, as produções acadêmicas ficam somente na biblioteca da Universidade e no repositório da internet, e acaba que as pessoas de fora nem sabem o que está sendo produzido pelos alunos. É muito raro um trabalho ter uma divulgação como essa”, afirma.

 

Para Shayani, reconhecimento é oportunidade de divulgar a produção acadêmica. Foto: Reprodução/Portal Brasil

Segundo o docente, os engenheiros formados pela Universidade vão além da visão técnica estudada em grande parte do curso. “Eles analisam leis, regulação e qual a melhor solução para a sociedade. Essa geração mais nova não fica tão presa a ideias conservadoras”, analisa Shayani.


OPORTUNIDADE – Rafael Shayani reforça que há uma parceria entre a Faculdade de Tecnologia da UnB e o Governo de Brasília que pretende recrutar estudantes para um treinamento que será patrocinado pela WWF-Brasil. O objetivo é descobrir e avaliar o potencial de energia solar na Capital Federal, a fim de que os prédios públicos sejam capazes de produzir sua própria energia. Podem participar alunos das Engenharias Elétrica, Mecânica, Ambiental e de Energia, além de Ciências Ambientais, Economia e Relações Internacionais.