Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília pode ter grande impacto nos sistemas biométricos utilizados para garantir o bom uso de dados dos cidadãos e a segurança dessas informações. Por meio de criptografia forte, com algoritmos e procedimentos robustos e em tempo real, a solução proposta por Eduardo Magalhães de Lacerda Filho em sua dissertação de mestrado tem potencial para revolucionar esse campo.
“Propusemos um novo esquema de abordagem que garante o anonimato de qualquer pessoa dentro de bancos de dados biométricos, e ainda permite que eles se comuniquem executando todos os procedimentos de identificação com segurança. Um esquema de criptografia probabilístico e um novo protocolo de comunicação foram utilizados para obter privacidade, com evidências de segurança e integridade de interoperabilidade entre redes biométricas”, explica o orientador, Vinícius Gonçalves.
O docente escreveu com Eduardo Lacerda dois artigos científicos sobre o tema, publicados na revista IEEE (Qualis A1) e na Conferência Internacional ICISSP (Qualis B2), ambas com elevada avaliação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Vinícius ensina que a biometria útil em sistemas de identificação e verificação automatizados é aquela que tem por característica fundamental a perenidade na sua composição. Porém, esse cenário torna-se complexo quando se observa que cada vez mais diferentes bases biométricas, principalmente as públicas, possuem mais de uma biometria armazenada e transacionada.
O resultado da pesquisa de Eduardo Lacerda é implementável em qualquer sistema biométrico, seja público ou privado, e já existem entidades de governo no estudo.
“Usamos biometria a toda hora. Biometria é uma aferição estatística de um dado físico ou comportamental do cidadão, como face, impressão digital, voz, assinatura, entre outros. Como algumas dessas biometrias são perenes e podem ser quantizadas de maneira única para cada indivíduo, tornam-se extremamente úteis quando queremos identificar alguém. Então, vários segmentos da sociedade possuem seus sistemas de biometria, seja celular, condomínio, imigração, bancos, entre outros”, explica ele, que também é graduado em Engenharia Elétrica na UnB.
“O que a pesquisa trouxe de inovador é que podemos usar a biometria de qualquer cidadão sem que essa esteja referenciada a um dado que diga quem é o cidadão. Exemplo: o rosto armazenado em tal banco de dados pertence ao Eduardo Lacerda. Em vez disso, usamos criptografia para esconder os dados do cidadão. Então fica assim: o rosto armazenado em tal banco de dados pertence ao AC34567KFDA. E montamos uma forma de todo mundo chegar ao mesmo resultado para a mesma pessoa, sem revelar um dado (nome, CPF, data nascimento) do indivíduo”, detalha o autor da dissertação.
Segundo Eduardo, a solução proposta serve para proteger qualquer dado – como, por exemplo, os de rede de celular, internet das coisas, entre outros. “A segurança é garantida por meio de criptografia forte, com algoritmos e procedimentos robustos e em tempo real impossíveis de serem quebrados, pelo menos por enquanto, e da aplicação de técnicas de segurança em redes computacionais”, afirma ele, que é servidor público federal e trabalha com criptografia e biometria há cerca de 15 anos.
USOS DA BIOMETRIA – Hoje os sistemas biométricos são cada vez mais utilizados e conhecidos no Brasil. Por exemplo, na emissão de passaportes e nos serviços de imigração, na abertura de contas e transações no sistema financeiro, na aquisição de benefícios sociais, no provimento de certificados digitais por meio das autoridades certificadoras, na habilitação de eleitores para votação em urna eletrônica, no comércio, entre outros.
Para conhecer na íntegra a dissertação, intitulada Um novo protocolo de interoperabilidade para redes biométricas, aprimorando a segurança e privacidade por meio de técnicas criptográficas, clique aqui.