Quando o professor do Instituto de Física (IF) da Universidade de Brasília José Eduardo Martins ingressou na instituição, em 1998, se deparou com diversos equipamentos didáticos abandonados no almoxarifado do IF. O material, doado pelo governo alemão, nos primórdios de funcionamento do antigo Departamento de Física, acabou virando sucata, devido a danos provocados ao longo dos anos de uso – apesar da boa qualidade e do preço alto no mercado.
“Ele serviu para as primeiras atividades do Laboratório de Física no início do curso de bacharelado e foi sendo abandonado. Mas havia muitas peças, aparelhos e equipamentos que podiam ser adaptados para outros usos”, lembra o professor. Diante do desperdício, Martins, interessado na área de divulgação científica e ensino de Física, pensou em dar utilidade aos equipamentos. Daí surgiu a ideia da exposição Experimentoteca, projeto de extensão de ação contínua, cuja proposta é aproximar estudantes de escolas do ensino médio e a população da observação de fenômenos físicos, de forma prática; além disso, contribuir com a popularização da ciência.
O espaço, inspirado no laboratório de demonstrações do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, foi montado em uma antiga sala da pós-graduação do IF, no ICC Centro. Se conceitos, fórmulas, cálculos e descobertas dessa ciência parecem às vezes tão distantes da nossa realidade – e, frequentemente, incompreensíveis quando apresentados em sala de aula –, ao chegar à Experimentoteca os alunos têm a oportunidade de observar e até mesmo vivenciar, por meio do acervo, a aplicação de fenômenos da Física que aprenderam na teoria e constatar o quanto eles estão presentes no cotidiano.
Anualmente, a Experimentoteca recebe mais de quatro mil visitas de estudantes da rede de ensino do Distrito Federal e de estados vizinhos, como Goiás e Minas Gerais. José Eduardo Martins explica que o projeto foi concebido a partir de quatro circuitos temáticos, os Prolegômenos Físicos, que trazem um pouco da trajetória da Física a partir das descobertas de cientistas ao longo da história.
“A teoria vem para complementar o experimento, mas o intuito é que os alunos vejam e que aquilo fique mais palpável”, explica um dos estagiários da exposição e estudante do curso de Física, Yuri D’Lauan.
Criatividade é o que não falta para demonstrar as diversas experiências realizadas nas áreas da Física Clássica: mecânica, termodinâmica, ondulatória e eletromagnetismo. Experimentos mais simples e outros mais complexos integram a mostra e atraem a curiosidade dos estudantes, ávidos para testarem e aprenderem mais com os materiais, alguns deles idealizados pelos professores do IF.
Confira matéria da UnBTV sobre a Experimentoteca:
INTERAÇÃO – Na Experimentoteca, os visitantes podem interagir com equipamentos como a bobina de Tesla, experiência que leva o nome de seu inventor e simula a transmissão de energia sem o uso de fios, e a gaiola de Faraday, que é metálica, utilizada para demonstrar a blindagem eletrostática, além de muitos outros.
Entre os de menor complexidade estão as polias; o tubofone, instrumento musical feito com tubos de PVC que, em função do comprimento de cada um, ressoa em diferentes frequências conforme é manipulado; e ainda um circuito de pêndulos para demonstrar conceitos como os de dissipação de energia, ressonância, forças de atrito e de resistência do ar e sistemas não lineares.
Segundo José Eduardo Martins, grande parte deles foi concebida de forma que os visitantes possam recriá-los em casa ou em sala de aula, sem a necessidade de aparatos tecnológicos mais complexos. “Fazemos o mínimo de coisas possível na construção dos experimentos para que seja observado o que é importante (o fenômeno) e para que os estudantes que vão visitar não sintam dificuldade em reproduzi-los”, destaca o professor. A explicação sobre alguns dos equipamentos da mostra está disponível no canal do Youtube Viver em Brasília.
FORMAÇÃO – O espaço, além de incentivar o aprendizado diferenciado entre estudantes do ensino básico, funciona como uma sala de aula para aqueles que ainda estão na descoberta do ofício de professor. Isso porque as visitas são mediadas por estagiários de licenciatura em Física. O projeto também recebe estagiários do curso de Museologia, que desenvolvem atividades que contribuem na concepção do espaço como museu de ciência.
Para o monitor Yuri D’Lauan, a iniciativa não só proporciona a formação docente no contato com estudantes de todas as idades, mas também valoriza a experimentação no ensino e proporciona o aprendizado de forma mais prazerosa. “A Física como é passada hoje parece uma área da matemática, abstrata. Aqui tentamos desmistificar isso, mostrar que a Física pode ser aplicada e pode ser interessante, não é aquele monstro pintado no ensino médio”, avalia.
SERVIÇO – A Experimentoteca fica aberta à visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Os agendamentos, necessários apenas para grupos grandes, podem ser feitos na secretaria do IF ou pelo telefone 3107-7700. O projeto também integra o circuito do Tour no Campus, nas terças e quintas-feiras.