Ezequiel Costa identificou 54 alvos potenciais de ouro no Sudeste do estado e em 20 deles a presença do metal já foi comprovada. Exploração será feita por empresa que detém concessão de uso da área desde 2007.

O geólogo Ezequiel Costa pode ter descoberto uma mina de ouro. Não se trata de metáfora. O pesquisador identificou 54 alvos potenciais de ouro no Sudeste do estado e em 20 deles a presença do metal já foi comprovada. A descoberta faz parte de uma pesquisa de mestrado desenvolvida pelo Laboratório de Geofísica Aplicada da Universidade de Brasília, realizada nos últimos dois anos, e que pode revelar uma mina de ouro nos arredores da região de Rio Maria.


O achado foi possível graças a imagens geradas por sensores em um método de pesquisa que tem seduzido cada vez os cientistas. É a aerogeofísica de alta resolução. As áreas mapeadas serão exploradas pela empresa Reinarda Mineração, subsidiária da multinacional australiana Troy Resource, que detém concessão do subsolo da área desde 2007 e financiou parcialmente o estudo. Os primeiros sete furos nos alvos descobertos estão estimados em R$ 12 milhões, de acordo com o pesquisador.

Ezequiel era geólogo da Reinarda Mineração, em 2007, quando o coordenador de exploração da empresa, Rodrigo Cortez, e o diretor da área, Augusto Mol, propuseram o desafio. A empresa tinha em mãos dezenas de imagens geradas pela aerogeofísica de alta resolução, em uma operação que custou R$ 800 mil e durou 30 dias, mas precisava de alguém que as decifrasse. O desafio era analisar e interpretar os dados e, partir deles, identificar exatamente onde fazer as escavações. Ezequiel foi o escolhido. E a UnB a instituição apontada pela empresa como de maior referência no tema. “Como ele é geólogo formado pela UnB, a aposta não poderia ser melhor”, conta Cortez, que também desenvolveu sua dissertação pelo Instituto de Geociências. 


Os 54 pontos foram identificados em uma área de 2,5 mil quilômetros quadrados, próxima à Rio Maria, cidade de 22 mil habitantes fundada em maio de 1982 e com atividade econômica marcada pela mineração e agropecuária. A área próxima a dos alvos descobertos já tem uma mina em exploração, chamada Mamão, e outra extinta, conhecida como Lagoa Seca.


MAPEAMENTO –
 O mapeamento que resulta nas imagens aerogeofísicas é produzido por sensores localizados nas asas de aviões. Em vôos de aproximadamente 100 metros de altura, as aeronaves detalham todo o terreno.

O primeiro desafio de Ezequiel foi localizar nas imagens as chamadas zonas de alteração hidrotermal, regiões com rochas modificadas ao longo dos anos e que geralmente estão associadas ao ouro. Depois, ele foi a campo checar os alvos e recolher amostras de rocha e solo para análise em laboratórios. O trabalho contou com a colaboração e experiência das professoras Adalene Silva, orientadora do estudo, e Catarina Toledo, que auxiliou na orientação. Nesta etapa, Ezequiel confirmou a grande possibilidade de existir ouro no local. O passo seguinte foi executar as escavações, ainda em fase inicial. Na região estudada pelo pesquisador, o metal é encontrado na superfície, mas também em profundidades em média de 50 metros.


O amarelo brilhante nem sempre é visto a olho nu. “O mais comum é estar escondido entre as rochas e associado com sulfetos. Nesse caso, somente com auxílio de microscópios é possível identificar a associação mineralógica e o ouro”, conta Ezequiel, enquanto aponta um minúsculo ponto brilhante na única amostra que ele afirma ter recolhido de um dos pontos onde o ouro foi confirmado, denominado Resende.


A amostra despertou a curiosidade de alguns dos 23 alunos e professores que acompanharam a defesa da dissertação de Ezequiel, em uma sala do Laboratório de Geocronologia, na tarde da última sexta-feira, 26 de agosto.


Diferentemente de muitas defesas, em geral assistidas por familiares e membros da banca, a plateia de Ezequiel incluiu professores como Nilson Francisquini, especialista na descoberta de metais, e Reinhardt Adolfo Fuck, pesquisador 1-A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Não há dúvidas de que Ezequiel cumpriu as exigências para se tornar mestre”, elogiou José Carlos Sícole Seoane, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, integrante da banca.

A professora Adalene Silva destaca que o estudo é um exemplo real da inovação tão defendida nos discursos de acadêmicos e políticos como a meta científica mais importante para o país nesta década. “Os levantamentos aerogeofísicos têm permitido um salto nas pesquisas geológicas, porque mapeiam o subsolo com rapidez, precisão e menos impacto ambiental que outras técnicas”, explica. “Entretanto, como tem um custo altíssimo, a parceria com a iniciativa privada é indispensável”, diz. “Interpretar essas imagens é um trabalho dificílimo”, comenta a geóloga Márcia Abrahão Moura, decana de Graduação e uma das professoras de Ezequiel na graduação.


Segundo Adalene, o estudo de Ezequiel, somado a outros três já concluídos no estado do Pará sob sua orientação, e utilizando dados aerogeofísicos, trouxe informações geológicas importantes sobre o potencial aurífero do Sudeste do Pará. “O mapeamento fornece informações que indicam não só a presença de ouro, mas também de outros metais e minerais importantes, como o ferro. São resultados que podem estimular outros estudos e isso já está acontecendo”, conclui.