Einstein Camargos, médico geriatra do HUB e doutorando na UnB, recomenda uma segunda utilização para o antidepressivo Trazodona, atestando que o medicamento minimiza os distúrbios do sono em idosos com Alzheimer.

Um dos maiores males que acometem a população idosa no mundo – a Doença de Alzheimer – é sinônimo imediato de sofrimento pessoal e familiar, sempre associado a severos e progressivos transtornos comportamentais. Além da confusão mental e perda cognitiva generalizada, a insônia é um dos graves distúrbios vinculados. Einstein Camargos, médico geriatra do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e doutorando em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da UnB, propõe, em tese a ser defendida em março de 2013, como um conhecido e tradicional antidepressivo, o Trazodona, pode melhorar o sono nesses pacientes, recomendando uma segunda indicação terapêutica para o medicamento.

 

ESTUDO INÉDITO – Com auxílio do seu orientador, o professor Otávio Toledo Nóbrega, Einstein notou, em meio à prática clínica, como os distúrbios do sono na Doença de Alzheimer aceleram a progressão da doença e causam sobrecarga aos cuidadores e à família. Estudo desenvolvido no Centro de Medicina de Idoso (HUB/UnB) durante os anos de 2010 e 2011, envolvendo uma amostra inicial de 44 pacientes com Alzheimer e final de 30 idosos, que foram submetidos à aplicação alternada de placebo e cloridrato de trazodona 50 mg. Os testes foram feitos a partir de registros actigráficos por 14 noites consecutivas.


Os resultados indicaram que o grupo tratado com Trazodona apresentou ganho médio de 37 minutos no tempo total de sono (TTS), reduziu o período acordado em 31 minutos após iniciar o sono, diminuiu os chamados despertares noturnos e aumentou ainda em cerca de 10% a eficiência do sono. Segundo o professor Otávio Nóbrega, “o distúrbio do sono prejudica muito a qualidade de vida do paciente, ocasionando sérios transtornos também para a família”. Conforme sua avaliação, esse estudo tem o mérito de ser inédito, “atestando, na prática clínica, o que já se fazia de modo assistemático”.


LIMITAÇÕES DO SUS –
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), há cerca de 25 milhões de portadores de Alzheimer no mundo. No Brasil, mais de um milhão de pessoas no Brasil sofre com a doença. “Oito por cento dos idosos no final da vida são acometidas por alguma doença demencial, com perdas cognitivas e grandes decréscimos na capacidade de raciocínio”, afirma Otávio. “Infelizmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) não acolhe esses pacientes. Não há uma estrutura governamental de apoio a esse contingente, no máximo os Núcleos de Apoio Psicossocial que amparam apenas casos mais severos de distúrbio”, lamenta, acrescentando que no mundo utilizam-se praticamente três medicamentos para tratar a doença, “em geral, não há uma terapêutica diversificada”.


O estudo verificou ainda que o sono de má qualidade está associado à agitação diurna, o que favorece as quedas, o aparecimento de comportamento agressivo e o abuso de fármacos hipnóticos. Na comunidade investigada de pacientes idosos do HUB, Einstein notou que drogas como benzodiazepínicos, antipsicóticos e antidepressivos são comumente usados “off label”, ou seja, fora do que a bula prevê. “Ao confirmar que o uso da Trazodona 50mg comparada com o placebo repercutiu de modo seguro e eficaz, a contribuição se faz muito importante, melhorando significativamente a qualidade não só do sono, mas do quadro clínico do paciente como um todo”, afirma.


Outro dado importante que merece atenção, segundo o pesquisador, é o fato de o medicamento não estar mais protegido por patente, não caracterizando assim nenhuma pressão da indústria farmacêutica para impor mais vendas – conforme explica Einstein. “O interesse público está fortemente evidenciado”, assinala.


O estudo foi cadastrado na Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, e será publicado em diversas revistas internacionais, como a respeitada Clinical Trials, do US National Institutes of Health.