Estudo da UnB desenvolveu uma técnica inédita de utilização de bactérias nativas do solo para conter a erosão. Com a aplicação de nutrientes, os microorganismos passam a produzir minerais que fortalecem o solo, deixando-o até 20% mais resistente e até 50% mais rígido, além de mais impermeável. A técnica, chamada de biomineralização, reduz os impactos da chuva e representa uma alternativa econômica, com redução de custos de até 40% em comparação às técnicas tradicionais de recuperação de áreas erosivas
A doutora em Geotecnia Yamile Valencia Gonzalez coletou cinco amostras de solo de uma voçoroca - buraco criado pela erosão do solo com o desgaste provocado pelas chuvas - em Santa Maria, no Distrito Federal. Ela identificou 43 tipos de bactérias nas amostras.
Os microorganismos receberam três tipos de nutrientes, foram testados e avaliados em laboratório. As bactérias produziram um mineral chamado de carbonato de cálcio, uma espécie de cimento natural. “A técnica reduz impactos ambientais. Não tampamos o buraco, mas impedimos que ele aumente, estabilizando o solo”, explica a pesquisadora.
Identificado o nutriente mais eficaz, que promovia o melhor desenvolvimento das bactérias, a pesquisadora aplicou o nutriente nas cinco camadas de solo amostradas. Depois de 15 dias, foram realizados testes bioquímicos. Segundo a pesquisadora, a bactéria promove uma mudança no solo que naturalmente demoraria anos para ocorrer. “O carbonato de cálcio produzido por elas unem grãos do solo e preenchem espaços vazios”, explica.
PIONEIRISMO – O doutorado Influência da biomineralização nas propriedades físico-mecânicas de um perfil de solo tropical afetado por processos erosivos foi defendido em 20 de julho de 2009.
Segundo o orientador do estudo, José Camapum de Carvalho, professor do Departamento de Engenharia Civil e coordenador da pós-graduação em Geotecnia, a técnica da biomineralização já é explorada comercialmente. No entanto, a iniciativa é inédita na área de Engenharia Civil. “A técnica é inovadora e o estudo, pioneiro. Acreditamos que a redução de custos na recuperação com essa técnica é grande em comparação às tradicionais”, diz.
Um dos examinadores da banca de Yamile foi o professor da Universidade Nacional da Colômbia Marco Antonio Márquez. Ele diz que a biotecnologia é uma área promissora. “São tecnologias ambientalmente mais limpas. As bactérias são versáteis, você pode manipulá-las de várias maneiras. Não alteram a ecologia do solo e podem, inclusive, melhorar as condições da microflora”, afirma. A técnica pode ter outras aplicações: ser usada para melhorar o solo em barragens ou para pavimentação.
O professor de Geologia Vitor Paulo Pereira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o terceiro examinador da banca, opina sobre a interdisciplinaridade da pesquisa. “Envolve as áreas de Biologia, Geologia, Engenharias e até Agronomia. Esse trabalho abre margem para muitas outras pesquisas”, ressalta. “É um retorno muito positivo para a sociedade. Impede desmoronamentos e perda de área agrícola.”