Um artigo publicado na revista Ecohealth discorre sobre o papel do gênero na prevenção e no controle da doença de Chagas. A pesquisa, conduzida por Diana Triana, egressa do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, foi realizada na comunidade de El Salitre, em Honduras.
O estudo, que contou com a participação de 108 pessoas, concluiu que homens e mulheres necessitam de estímulos diferentes para que as informações sobre prevenção sejam transformadas em ações. Por isso, buscou identificar os fatores associados a essa mudança de comportamento.
Durante as pesquisas, ambos eram expostos a informações sobre como adequar as casas para impedir que o barbeiro – inseto hematófago que, quando contaminado pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmite a doença de Chagas – resida nas moradias humanas.
“Percebemos que não se deve tratar a comunidade como se fosse homogênea. Os homens, por exemplo, não mudam seus comportamentos somente com o fornecimento de informação sobre a doença”, explica o professor Frédéric Mertens, orientador de Diana Triana.
A egressa da UnB constatou que as mulheres com nível socioeconômico mais alto e os homens com mais anos de educação tendiam a adotar medidas preventivas. Além disso, as mulheres afirmavam que era muito importante implementar melhorias nas casas para prevenir a doença nos filhos."Para elas, era realmente importante que a melhoria fosse feita. Os homens, às vezes, não ligavam muito para prevenção e ficavam sem querer conhecer o que realmente a doença indicava, mas eles que faziam o trabalho pesado na implementação das melhorias", conta Diana.
“Propusemos soluções com materiais locais, como barro e cinzas de vulcão, para executar melhorias nas casas e prevenir a instalação do barbeiro”, explica o professor.
Outra percepção da pesquisadora foi a de que homens que participam em atividades manuais, como adaptar as casas, executam mais essas ações do que aqueles expostos somente a palestras e informações – e, com as mulheres, acontece o inverso: orientações sobre como dificultar a moradia do inseto em residências humanas são eficazes para motivar as mulheres a agirem.
CONTAMINAÇÃO – Quando o barbeiro suga o sangue de um animal contaminado pelo Trypanosoma cruzi, o protozoário passa a viver em seu tubo digestivo. Esse inseto tem o costume de picar e defecar na região próxima à picada. Como sua saliva tem uma substância que provoca coceira, a pessoa acaba coçando o local e, com isso, as fezes são levadas para a ferida.
Os barbeiros podem ser encontrados em abrigos secos e quentes, como pedaços ocos de árvores, lixo acumulado, pilhas de lenha e frestas de parede – principalmente em casas de adobe, como é tradicional em El Salitre.
PARCERIA – O estudo foi conduzido por Diana com recursos de parcerias firmadas com a UnB, coordenadas pelo professor Frédéric Mertens e financiadas pelo International Development Research Centre (IDRC) do Canadá. A professora Carlota Monroy, da Universidad de San Carlos de Guatemala, considera que o trabalho colaborativo foi determinante para a publicação de boa qualidade, em uma revista classificada como A1 pela Capes. “Essas alianças nos permitiram atuar com independência e de forma coordenada, de maneira que as atividades se complementaram e tivemos, todos, excelentes resultados para apresentar”, afirma.
CONHECIMENTO – A abordagem defendida por Diana pode ser aplicada em outras situações e possibilita que campanhas de prevenção de doenças como a Zika virose e a dengue, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, sejam repensadas.
“Às vezes as pessoas não têm informações de boa qualidade sobre a saúde. É necessário fazer a prevenção levando em consideração a gestão do conhecimento, sempre atento ao enfoque, que possibilitará que as pessoas entendam e utilizem esse conhecimento”, explica Diana.