Umas das dez premiadas no RE-FARM CRIA, coleção A Cor é Rosa utiliza tingimento bacteriano e vegetal para criar peças inovadoras e sustentáveis

Foto: João Paulo Teles /Biostudio

 

Unir moda, design, diversidade, inclusão e ciência é a proposta da pesquisa do professor de Design na UnB Breno Abreu. Ele é o responsável pela coleção A Cor é Rosa, que utiliza tingimentos bacterianos e vegetais em roupas para promover cuidado ambiental, inovação no design e sustentabilidade.

 

Em 2023, o projeto de pesquisa interdisciplinar Biostudio, coordenado por Breno, venceu o edital RE-FARM CRIA, lançado pela marca de roupas Farm e pelo Instituto Precisa Ser. Assim, no início de 2024, foi lançada uma coleção cápsula, voltada para a comunidade de pessoas LGBTQIAPN+, acrônimo que faz referência às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e travestis, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não binárias e outras.

 

O egresso, graduado em Desenho Industrial e em Ciências Biológicas, mestre em Design e doutor em Arte pela UnB, conta que a ideia surgiu no mestrado, quando uniu as duas graduações para desenvolver algo inovador.

 

“A pesquisa com tingimento bacteriano surgiu em 2013. Buscava uma forma de integrar Design e Biologia, quando encontrei o biodesign”, explica. “Essa área usa seres vivos, seja vegetais ou animais, para o desenvolvimento de produtos sustentáveis e biodegradáveis”, comenta Breno.

 

Pensando em um futuro em que a moda não é apenas sobre aparência, mas sobre significado, propósito e a celebração da vida em todas as suas formas e cores, o professor buscou outros projetos que utilizavam biomateriais.

 

“Encontrei alguns projetos da Suzanne Lee, que trabalha com kombucha para produção de um biomaterial que parece um couro. Depois lembrei que existiam bactérias que tinham diferentes colorações”, destalha o professor. E assim surgiu a ideia de utilizar pigmentos bacterianos para tingir tecidos, de forma mais sustentável e consciente.

 

Isso porque um dos grandes problemas da indústria da moda é a utilização de pigmentos e corantes sintéticos, difíceis de serem eliminados após o processo de tingimento. “Esses pigmentos, normalmente, vêm de petróleos ou de materiais danosos tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente. Além disso, o tingimento sintético acontece em altas temperaturas e são feitos vários banhos, o que gasta muita energia e água”, explica.

 

“Eles ainda acabam sendo descartados da maneira não adequada, poluindo o meio ambiente, trazendo consequências para os lençóis freáticos e também para os seres humanos”, diz. “Já os pigmentos vegetais e bacterianos utilizam menos água e menos energia elétrica. E o descarte não causa danos ao meio ambiente, bastando apenas esterilização para que fique biologicamente inativo”, descreve.

 

PESQUISA – De forma inovadora e buscando alternativas, Breno Abreu começou a pesquisar bactérias e a testar colorações em diferentes tipos de tecidos. “Minha coorientadora, Gláucia Lima, é da Universidade Federal de Pernambuco e lá havia algumas actinobactérias na coleção de micro-organismos. Foi lá que desenvolvi os tingimentos, utilizando essas bactérias, que têm diferentes cores, dependendo do tipo de cepa”, esclarece.

"Como um homem gay cis, busquei desenvolver este projeto em colaboração com a comunidade. Então, formei um grupo diversificado composto por mulheres lésbicas, mulheres trans e homens bissexuais, visando incorporar a pluralidade e diversidade ao processo de criação", explica Breno. Foto: João Paulo Teles/Biostudio

 

O docente explica que a técnica de tingir tecidos com matéria vegetal e bacteriana necessita de um preparo que inclui lavagem inicial para remover possíveis resíduos químicos. Em seguida, adiciona-se um mordente, substância química utilizada em processos de tingimento e estamparia têxtil, para ligar o pigmento às fibras.

 

No tingimento vegetal, os pigmentos são extraídos do crajiru, planta nativa da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica. “Fervemos as folhas secas, de forma que o extrato vegetal é como se fosse um chá”, pontua Breno. “Já para o pigmento bacteriano, as bactérias crescem em laboratório, no meio de cultura própria, durante 72 horas. O pigmento é separado por centrifugação, e utilizamos só o líquido e, não, a bactéria”, salienta. O pigmento é então fervido junto com os tecidos a 60º, por uma hora, adquirindo uma coloração rosa vibrante. Após o processo, o material pode ser lavado normalmente com sabão neutro.

 

INCLUSÃO – O pesquisador ressalta que a coleção oferece um olhar colaborativo e social, de inclusão e pluralidade. “Temos três pontos de destaque nessa pesquisa: o design colaborativo, a sustentabilidade ambiental e também a diversidade de corpos e de gêneros, para que todos possam se enxergar dentro das produções de moda”, afirma o cientista.

 

Os três pontos foram alinhados até chegar ao resultado da coleção A cor é rosa, uma das dez contempladas na segunda edição do RE-FARM CRIA, que contou com mais de 500 inscrições de todo o país. “Enxerguei como uma oportunidade de fazer a conexão entre o debate de que as cores teriam gênero, em que menino usaria azul e menina vestiria rosa”, comenta Breno. “Encontrei a oportunidade de falar sobre esse assunto com uma coleção que utiliza apenas a coloração rosa e que é voltada para comunidade LGBT”, explica.

 

De acordo com sua experiência de trabalho na indústria da moda, Breno relata que, embora muitas pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ estivessem envolvidas, elas eram principalmente vistas como força de trabalho, sem criações específicas para o grupo. Por isso, decidiu desenvolver uma coleção inclusiva, envolvendo diretamente a comunidade no processo.

 

Para isso, formou um grupo diversificado, composto por mulheres lésbicas, mulheres trans e homens bissexuais, para garantir uma representação autêntica e plural. Utilizando os recursos financeiros disponíveis, direcionou o montante da premiação para o desenvolvimento da coleção, na qual 90% dos profissionais contratados são membros da comunidade LGBTQIAPN+, em diversas áreas, como modelagem, costura, fotografia, cabelo e maquiagem.

 

>> Assista ao vídeo de lançamento da coleção.

 

 

 

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