Segundo economista, eleitores precisam se informar com a política da mesma maneira que fazem do uso de dinheiro.

O brasileiro se preocupa muito quando o assunto é desperdiçar dinheiro. Mas por outro lado, quando participa de eleições, não há interesse em fiscalizar o gasto público. Uma pesquisa da UnB usou a teoria econômica para estudar o comportamento do eleitor e comprovou que os brasileiros são desinformados quando se trata de política, e não agem em proteção de seus interesses, como fariam com seu dinheiro. Mas por que essa relação divergente?

A dissertação de mestrado do economista José Jorge Gabriel tenta averiguar se os brasileiros avaliam os políticos com base no seu desempenho no último mandato. O pesquisador trabalhou com duas hipóteses. A primeira é que o eleitor não se informa sobre os políticos que escolhe. A segunda é que eles não sabem atribuir corretamente quem faz o que na política, ou seja, confunde avanços que vieram de políticas federais com a real eficiência do governador de seu estado.

José Jorge avaliou um total de 108 eleições: todos os pleitos estaduais, em quatro momentos: 1994, 1998, 2002 e 2006. E comparou os resultados com o desempenho dos índices de desemprego, PIB, pobreza, saneamento e segurança. A pesquisa, com foco nas eleições dos governadores, apontou que o eleitor vota com base em informações vagas sobre o desempenho prévio do político.

A variação dos votos que um candidato tem de uma eleição para outra acompanha a evolução dos cinco índices econômicos e sociais analisados por Jorge. Segundo ele, os brasileiros têm dificuldades em separar de atuação do governo estadual das políticas federais.

José Jorge chamou essa influência de “efeito carona”. Os políticos locais tendem a se beneficiar com as taxas de crescimento do país, melhorando sua imagem junto ao eleitorado. O estudo apontou que se o país vai bem, o político tem mais chance de reeleição, mesmo que não tenha responsabilidade direta na situação sócio-econômica de seu estado.

“Muitas vezes, o eleitorado não sabe dar o crédito da ação à pessoa pública ou gestão responsável”, destaca. Um exemplo é como o preço das commodities influencia a política. Nos últimos anos, as exportações de produtos agropecuários cresceram muito. Isso repercutiu nas economias locais, gerando empregos e aumentado a renda média da população. O eleitor, contudo, não sabe a quem atribuir essa melhoria de vida.

Por conta dessa avaliação imprecisa, ele acaba por prejudicar o desenvolvimento da democracia. Desinformados, os brasileiros assistem ao desperdício dos recursos públicos. As conclusões da pesquisa apontam que o eleitor brasileiro é muito suscetível a "choques exógenos" na política local, ou seja, sua avaliação não é restrita à capacidade do(a) governador(a).

“Para o bom funcionamento da democracia é preciso que o eleitorado se informe mais, especialmente sobre a economia e a política do país”, elucida o pesquisador. “Só assim nosso dinheiro será mais bem gasto pelas pessoas que delegamos poder e em prol da sociedade”, conclui.