O produto feito a partir de resíduos agrícolas e madeireiros é usado na geração de energia. Estudo quer diminuir perdas no transporte até o consumidor.

A ideia por trás do uso do briquete é simples: materiais de origens diversas são prensados e usados como lenha em padarias, pizzarias e lavanderias. É uma técnica antiga, que foi redescoberta nos últimos anos como forma de reaproveitar os resíduos de agroindústrias e de madeireiras. Na trilha desse novo mercado, uma pesquisa do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília vai gerar, pela primeira vez, dados sobre as características dos briquetes e testar métodos para avaliar com mais precisão a resistência do produto final pela análise de diferentes matérias primas.


“Com o resultado do estudo a indústria vai ter mais ferramentas para reduzir as perdas que ocorrem no transporte do produto da fábrica até o consumidor final”, explica Frederico de Souza, doutorando em Ciências Florestais. Atualmente a porcentagem de briquetes danificados ou destruídos que chega ao destino é de aproximadamente 5%. “É um valor significativo para as empresas que exploram a matéria prima”, destaca Frederico. Se a perda for reduzida, haverá economia importante no elevado preço desse combustível. Segundo o pesquisador, não existem informações consolidadas sobre quais são os melhores métodos e matérias primas para a fabricação do briquete. “O nosso estudo vai ajudar a estabelecer um padrão para os processos industriais do setor”, explica.


Para alcançar tal objetivo, Frederico vai produzir um total de 480 briquetes a partir de seis matérias primas diferentes: três variedades de madeira – cumaru, tauari e pinus – e três resíduos de origem agrícola – casca de arroz, torta de pinhão manso e bagaço de cana. Todas serão moídas e irão passar por oito procedimentos diferentes de fabricação – variando o tamanho dos grãos, a temperatura e a pressão.


TESTES -
Para cada matéria prima e para cada tratamento serão produzidos dez briquetes, dos quais seis vão passar por testes para medir a resistência do material a partir dos métodos de stress wave, ultrassom e do ensaio destrutivo. Outros três passarão por uma avaliação em raio x. Fabricado o último briquete de cada método, os cientistas medirão a temperatura no interior do produto durante o processo. Toda a tecnologia e materiais empregados pertencem ao Laboratório de Produtos Florestais do IBAMA – órgão parceiro na pesquisa.


“O teste destrutivo é o único usado atualmente na indústria para avaliar as características do produto”, conta Frederico. A intenção da pesquisa, segundo ele, também é analisar a viabilidade dos três métodos serem incorporados à rotina das fábricas. “Isso evitaria a destruição de parte dos briquetes como forma de medir a resistência de um lote do produto”. Já a última analise vai servir para determinar a diferença entre a temperatura da superfície do briquete – que é definida no momento da fabricação – Ed seu interior. “A parte central do produto esquenta menos que a superfície, queremos saber como isso influencia o processo de fabricação”.


Frederico prevê que os resultados do estudo estejam consolidados até 2014. “Ainda estamos na fase de fabricação do material”, afirma. A pesquisa é orientada pelo professor Ailton Valle, da Engenharia Florestal, e será a tese de doutoramento do pesquisador.


Apesar da produção de briquetes no Brasil estar em plena expansão – cresce a um ritmo de 4,4% ao ano –, ela ainda é incipiente. Para se ter uma noção disso, anualmente a indústria da madeira produz um total de 14 milhões de toneladas de resíduos – a maioria se transforma em lixo. “São montanhas de serragem e outros partes que não são aproveitadas na fabricação dos produtos de madeira”, destaca o professor Luiz Vicente Gentil, da Faculdade de Agronomia.


De todo o resíduo madeireiro produzido, apenas 600 mil toneladas se transformam em briquetes. Outras 400 mil vêm de resíduos agrícolas, como cascas de arroz e bagaço de cana. “Atualmente temos 80 fábricas de briquetes, a maioria funcionando junto a serrarias”, afirma Gentil, que é autor de uma tese sobre a economia do briquete de madeira, publicada em 2008.


O professor acredita que pesquisas como a desenvolvida por Frederico são um incentivo a mais para que a exploração do novo nicho se consolide. “Na logística da produção e distribuição, tudo deve ser feito para diminuir os custos e tornar a atividade mais rentável”. No fim das contas, a economia na produção poderá se refletir no preço que chega ao consumidor. “O preço da tonelada do briquete pode chegar a 400 reais atualmente. É caríssimo”, conta o professor.


Leia aqui a matéria de abertura da série sobre biocombustíveis