Especialistas falam da necessidade do uso inteligente dos recursos hídricos. Escassez de água é realidade na região da capital do país.

A água disponível para o uso humano no Distrito Federal é 20 vezes menor do que a média brasileira. Na região metropolitana de Brasília são apenas 1.338 m³ por ano para cada habitante, situação considerada como estresse hídrico pela Organização das Nações Unidas. Medidas para evitar que a situação alcance índices ainda mais críticos foram discutidas hoje em seminário organizado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília.


Mais de 200 pessoas compareceram ao Anfiteatro 12 para acompanhar apresentações sobre a utilização racional dos recursos hídricos no contexto urbano. “É crucial discutirmos essa questão na universidade. A quantidade de água disponível hoje no DF já compromete o desenvolvimento social e econômico da região”, afirma Daniel Sant’Ana, professor da FAU e coordenador do evento. O reuso da água é considerado por ele uma condição indispensável para evitar a escassez. “As soluções para garantir o abastecimento devem passar pela redução do consumo e pelo reuso, não apenas pela procura de novas reservas”, opina. 
 
Responsável por um estudo que observou o consumo e o reuso de água em 117 residências de diferentes classes sociais no DF, Daniel mostra que há uma relação direta entre a renda e o consumo de água. Em regiões de classe alta, a demanda supera a das áreas mais pobres, mas há menos reutilização. Dados apresentados pelo professor mostram que o reuso em Ceilândia, classificada no estudo como região de baixa renda, é até 54% maior que no Lago Sul, região com a maior renda per capta no DF.


O estudo divide a reutilização em escalas externa e interna. A primeira, mais simples, requer apenas um reservatório para captação da água a ser reaproveitada para atividades de irrigação e limpeza de pisos. A outra exige uma adaptação do sistema hidráulico para o uso de descargas e equipamentos como máquinas de lavar roupas. A diferenciação indica que os recursos podem ser reutilizados em diferentes de tipos de habitação, não dependendo de grandes estruturas. 
 
O professor de Engenharia Civil Oscar de Moraes Cordeiro diz que em Brasília há uma falsa sensação de que não há falta de água. “A escassez no DF não é um problema com visibilidade social” Ele mencionou os perigos da ocupação irregular do solo e falou da necessidade de se importar água das bacias de Goiás e captar águas da barragem do Lago Paranoá. “Nós temos várias nascentes, mas rios com pequena vazão”, lembra. “A situação nas épocas de seca é agravada: temos pouca água na natureza e uma demanda ainda maior”. 
  
REAPROVEITAMENTO - Cerca de 40% dos recursos hídricos consumidos em residências geram a chamada água cinza, explica Marcos Elano Montenegro, superintendente de regulação técnica da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa). O termo faz referência à água utilizada em banheiras, chuveiros, máquinas de lavar e pias (exceto às de cozinha).  Com tratamento, essa água pode ser reaproveitada, por exemplo, para a irrigação de jardins e descargas de vasos sanitários. “É razoável que uma parte se perca, mas temos que nos esforçar para aumentar o reuso”, diz. “Não há nenhum lugar do mundo em que se fale em perda zero”, completa.


Durante o seminário também foram apresentados modelos de utilização da água da chuva e de construções que privilegiam o aproveitamento máximo dos recursos hídricos. O Hospital Sarah Kubitschek no Lago Norte é um dos exemplos de cuidado com os recursos naturais. Uma central de tratamento avançado e reuso de água funciona  no local e permite a irrigação de mais de oito mil m² de grama e o funcionamento das descargas de todos os banheiros.