Tese aponta alternativas para diminuir impacto da exploração legal da madeira.

 

A atividade econômica na Floresta Amazônica não precisa estar associada a práticas de desmatamento. Tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PGEFL/FT) aponta que mudanças nos modelos de planejamento da exploração de madeira podem reduzir em até 16% a quantidade de infraestrutura alocada no interior das áreas de manejo florestal e, por consequência, minimizar os efeitos causados ao ecossistema.


A pesquisa avaliou em campo a execução de operações florestais e combinou ferramentas de modelagem espacial e técnicas matemáticas para propor ajustes em áreas de manejo florestal sustentável de domínio privado no Amazonas e público em Rondônia, ambas na Amazônia Legal. Nos dois Estados, a constatação é de que é possível diminuir de forma substancial a quantidade de infraestrutura, principalmente de trilhas de arraste e pátios de estocagem de madeira. Essas instalações, muitas delas permanentes, são tidas como danosas ao meio ambiente.


A análise da exploração esteve centrada em dois sistemas de operações empregados na Amazônia: o corte/arraste (SCA), na floresta pública, e o corte/guinchamento/arraste (SCGA), na área privada. No SCA, estradas e pátios são abertos e os tratores acessam de forma direta, pelas trilhas de arraste, as árvores exploradas. No SCGA, a distribuição ocorre nas trilhas e pátios de estocagem e não ocorre o acesso direto de máquinas, as árvores são guinchadas por cabos até as margens das trilhas. A avaliação é de que o modelo SCA é vantajoso do ponto de vista econômico, mas o SCGA causa menos impacto ambiental. A constatação, entretanto, é que as perdas de produção podem chegar a 18% nos processos atuais.


O estudo também abordou aspectos ambientais e ergonômicos, tipos e intensidade de impactos, custos de produção e sistemas de informações geográficas no contexto do manejo florestal para produção de madeira. Os resultados trazem indicadores dos sistemas operacionais empregados na exploração florestal e podem auxiliar os setores envolvidos no manejo florestal sustentável na Amazônia Legal.


“Se quisermos manter a floresta e a produção de madeira, devemos controlar o impacto e buscar aperfeiçoamento das técnicas e, se for o caso, o que acho perfeitamente possível existindo interesse das partes envolvidas, pagar mais caro por isso”, relata o autor da pesquisa, Fabiano Emmert. O engenheiro florestal avalia que é necessário aprofundar os estudos “para entender a dinâmica e o comportamento da floresta em função de ações antrópicas e dos fenômenos climáticos”.


Bolsista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI), Fabiano Emmert afirma que o potencial econômico da floresta deve ser aproveitado de forma consciente, sem repetir o erro de países que caminham para o esgotamento dos recursos madeireiros pela “má gestão de suas áreas de florestas tropicais”.


Segundo ele, é preciso romper a barreira cultural que existe no uso da madeira. “Nosso país apresenta a maior cobertura de florestal tropical do mundo. Em futuro próximo, estudos indicam que a demanda por madeira tropical estará voltada para a nossa floresta”, diz. “Para mantermos a floresta em pé e o seu funcionamento ecológico, esse recurso deve ser utilizado aplicando os fundamentos técnicos e científicos do manejo florestal sustentável. Culturalmente, precisamos desassociar o uso de madeira tropical das maneiras ilícitas e insustentáveis do uso de recursos naturais”, completa.  


Uma das barreiras encontradas para a exploração sustentável do recurso é o horizonte de planejamento. O ciclo de corte estabelecido por lei para florestas nativas na Amazônia Legal é de 25 a 35 anos, tempo em que as mesmas espécies exploradas levam para alcançar o tamanho mínimo de corte. “Nós, florestais, juntamente com os tomadores de decisão e a sociedade, temos um desafio incrível nas mãos quando pensamos em produção de madeira tropical, que é manter a cobertura e as funções da floresta e gerar renda para o país”, afirma o cientista.


PESQUISA DE PESO –
 Fabiano Emmert fez doutorado sanduíche na Universidade do Texas e esteve por quase quatro meses na Amazônia em pesquisas de campo. “Essa é uma pesquisa muito relevante. É um passo importante para a inserção da universidade nos estudos da região amazônica”, avalia o orientador da tese, Reginaldo Sérgio Pereira.


A pesquisa foi financiada com o apoio de editais da Capes e do Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP/UnB) e pelo projeto INCT/Madeiras da Amazônia e contou com a colaboração do INPA, do Serviço Florestal Brasileiro e de empresas privadas do setor florestal. Confira a íntegra da tese Combinação de dados de campo e métodos computacionais para o planejamento da exploração florestal na Amazônia.