Espécies marinhas e de água doce têm níveis de cortisol elevados quando são expostos a temperaturas mais altas. Docente da UnB assina descoberta

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Tem muita gente que fica mais nervosa com as altas temperaturas dos dias quentes de verão. Uma pesquisa publicada recentemente no periódico científico Journal of Fish Biology mostra que também é assim para os peixes. O estudo internacional envolveu cientistas de Itália, França e Brasil e verificou que o cortisol, hormônio que regula o metabolismo energético e que está frequentemente relacionado ao estresse, é mais alto em peixes de ambientes mais quentes – mesmo quando eles não estão sendo propositalmente estressados por nenhum outro fator.

“A resposta fisiológica de estresse é um mecanismo que o corpo tem para lidar com variações no ambiente. Ele desvia energia de um investimento de longo prazo, como preparar seu organismo para reagir a doenças futuras ou para reproduzir na idade adulta, e dedica essa energia a resolver problemas iminentes do presente”, explica Bastien Sadoul, pesquisador do Instituto Nacional Francês de Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente (Inrae). “O problema começa quando as situações estressantes se encadeiam uma após a outra. Isto é o que chamamos de estresse crônico, que tem uma série de efeitos adversos”, completa o cientista francês.

Professor Eduardo Bessa (FUP) estuda aspectos evolutivos do comportamento dos peixes. Foto: Divulgação

 

Ele é um dos pesquisadores que assina o artigo A temperatura da água explica parte da variação da temperatura basal nível de cortisol plasmático dentro e entre as espécies de peixes, ao lado do professor de Zoologia da Faculdade UnB Planaltina (FUP) Eduardo Bessa. Acesse diretamente aqui.

Para chegar à conclusão, o grupo recolheu dados sobre o nível inicial do cortisol em 126 outros trabalhos já publicados, assim como a temperatura a que os peixes estavam expostos. Todos eles eram mantidos em temperaturas toleráveis para cada espécie. Mesmo assim, aquelas que estavam mais próximas ao limite superior de tolerância, ou seja, expostas ao calor, tinham níveis basais de hormônio do estresse mais altos. Esta prática de analisar dados derivados de outros estudos é chamada de meta-análise e tem permitido obter dados mais confiáveis em temas sob disputa entre a comunidade científica.

Tilápia do Nilo e robalo europeu foram espécies detalhadas no estudo. Fotos: Museu Nacional UFRJ e Giuseppe Mazza

 

Além de explorar 33 espécies diferentes de peixes das mais diferentes regiões e habitats, a pesquisa se dedicou mais detalhadamente a uma espécie marinha, o robalo europeu (Dicentrarchus labrax), e a uma espécie de água doce, a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Com algumas variações entre as espécies, a temperatura foi capaz de explicar consideravelmente a quantidade de cortisol nos peixes, tanto entre grupos quanto dentro de cada grupo.

Outros fatores como sexo, idade ou ambiente dos peixes não foi útil em prever esses valores. Também se observou que 20% do cortisol circulante num peixe têm a ver com a evolução dele. Peixes mais aparentados têm níveis de cortisol parecidos.

“Ainda há muitos fatores que podem influenciar os níveis de cortisol nos peixes, mas para decifrar isso é preciso que os estudos sobre estresse descrevam melhor como os peixes são mantidos antes dos testes. Obtivemos dados sobre temperatura do aquário e sexo dos peixes, mas poderíamos ter um panorama muito mais completo incluindo a acidez da água, iluminação do ambiente e muitos outros fatores”, destaca o professor Eduardo Bessa, sobre o potencial de a pesquisa ter novos desdobramentos.

 

*com a colaboração de Eduardo Bessa.

 

 

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