Trabalho sobre os projetos da arquiteta modernista foi apresentado na FAU. Contemplado pelo Prêmio UnB de Dissertação e Tese em 2015, ficou também entre os finalistas do Grande Prêmio UnB de Tese

Foto: Instituto Bardi

 

Apaixonada pela arquitetura que reflete o habitante e seu contexto cultural, a arquiteta Maíra Teixeira vasculhou durante quase dois anos o acervo do Instituto Bardi, em São Paulo, com o objetivo de identificar os projetos habitacionais de Lina Bo Bardi.

 

Autora da tese, Maíra Teixeira. Foto: Arquivo pessoal

“Até então, a historiografia identificava sete casas concebidas por Lina. A tese revela 33”, conta Maíra, ao lembrar o tamanho do desafio no início da pesquisa que desenvolvia na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília. "Queria estudar toda a produção habitacional de Lina. Mas esse universo é muito maior do que se imagina”, afirma.

 

Graduada e mestre pela Universidade Federal de Viçosa, com doutorado pela UnB, Maíra – que hoje é professora de Arquitetura na Universidade Estadual de Goiás – diz que a obra de Lina Bo Bardi já lhe chamava atenção quando era estudante.

 

“Sempre entendi arquitetura como produto cultural e resultado de determinado contexto. Lina era uma arquiteta que tinha esse entendimento”, conta Maíra.

 

Ela explica que toda intervenção da arquiteta em determinado local era resultado dessa compreensão mais ampla sobre o lugar que seria habitado. “Quando o visitava, Lina concebia vários desenhos e aquarelas, buscando capturar a identidade e a dimensão daquele ambiente.”

 

Lina Bo Bardi, aos 24 anos, um ano antes de se formar em Arquitetura. Foto: Instituto Bardi

 

As casas projetadas por Lina entre as décadas de 50 e 80 eram mais do que casas modernas que primam pelo funcionalismo. “Trata-se de uma casa que também dialoga com as tradições locais e a paisagem natural, o que permite ao usuário se identificar com esse espaço e seguir com seu modo de vida”, destaca.

 

Essa sensibilidade para interpretar o lugar em que ia inserir sua obra, em toda a sua complexidade, era um diferencial de Lina, segundo a pesquisadora. “Assim foram suas intervenções no Pelourinho, em Salvador, onde ela, já a partir de suas primeiras visitas, buscava entender o ritmo, a rotina e a vida naquele lugar”, cita.

 

“Lina era uma italiana muito brasileira”, diz Maíra. "Ao incorporar elementos da arquitetura popular em suas obras, ela revelou outro Brasil ao mundo. Esse é, sem dúvida, um dos maiores legados para a arquitetura brasileira”, avalia.

 

Defendida em 2014, a tese As casas de Lina Bo Bardi e os sentidos de habitat  foi orientada pelos professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, Sylvia Ficher e Andrey Schlee. Contemplado em 2015 pelo Prêmio UnB de Dissertação e Tese, o trabalho ficou entre os finalistas do Grande Prêmio UnB de Tese.

 

Primeiro projeto construído da arquiteta, a casa do Morumbi é hoje sede do Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi em São Paulo. Ícone da arquitetura moderna, foi residência do casal por mais de 40 anos. Foto: Instituto Bardi