Pesquisa da UnB ajuda a traçar perfil de estudantes de graduação. Estudo pode ajudar instituições a se sustentar economicamente.

O número de faculdades particulares aumentou apenas 0,5% entre 2006 e 2007, segundo o Censo da Educação Superior divulgado pelo Ministério da Educação, o que pode indicar a estagnação de um setor que chegou a crescer mais de 10% ao ano. De acordo com o mesmo documento, houve mais de 1,3 milhão de vagas ociosas nesses estabelecimentos.

 

Um estudo realizado na Universidade de Brasília mostra que instituições de pequeno e médio porte que desejem atrair alunos e sobreviver no mercado – faculdades particulares pediram uma linha de financiamento ao BNDES em fevereiro para conter a crise – devem investir em infra-estrutura. Em torno de 90% das 2.281 instituições de ensino superior brasileiras se encaixam nessa categoria. 

“Os estudantes desses estabelecimentos querem laboratórios, salas bem equipadas, auditório, proximidade de casa. Ele está pagando e quer boas instalações”, afirma a economista Solange Alfinito, autora da pesquisa desenvolvida no seu Doutorado em Psicologia Social do Trabalho e das Organizações, no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, e que contou com apoio do CNPq na forma de bolsa de estudos.

LUCRO – Solange levantou as características desses estudantes a partir de uma ferramenta inédita no Brasil que permite ter informações mais profundas e confiáveis sobre um público. O instrumento analisa as crenças de um grupo, chegou a proporcionar 80% de acerto na predição de comportamentos na hora de escolher um serviço.

Ao aplicar essa metodologia na educação superior, a pesquisa mostra que os alunos das pequenas e médias instituições, em geral particulares, tendem a ser mais conservadores, valorizar a tradição, serem mais conformados. Não se importam tanto com a imagem da instituição, mas com a facilidade de estudar e com o conforto. 

“Conhecer essas sutilezas é fundamental para o empresariado da educação se diferenciar em um mercado que está se estabilizando, mas que ainda conta com muita concorrência. Quanto mais informações ele tiver sobre o cliente, mas chances têm de atender melhor a esse público e de investir de forma eficiente”, diz a economista.

METODOLOGIA – Solange obteve os dados por meio da aplicação de questionários em 4.742 estudantes de ensino superior em instituições de todo o Brasil. Dentre diversos itens, eles também apontaram o que os motivou a decidir escolher aquela faculdade – baixa concorrência e qualificação de professores, entre outros, além de apontar o quanto acreditavam em certas crenças, por exemplo, se pessoas poderosas tendem a explorar as outras. 

As peculiaridades do aluno da faculdade particular de pequeno e médio porte ficam mais evidentes quando comparadas a dos colegas nas universidades de grande porte públicas e particulares, que têm características diametralmente opostas. Os alunos das faculdades menores têm média de 25 anos, trabalham, estudam de noite e cursam a graduação porque agora têm condições de pagar as mensalidades. Já os alunos das universidades de grande porte têm idade de 18 anos em média, se dedicam integralmente aos estudos – pois têm suporte financeiro dos pais – e valorizam a qualidade da instituição acima de qualquer outro atributo.

“Esses alunos tendem a ser mais abertos a mudanças, a desafios e ao prazer. Também endossam mais valores de autodeterminação”, diz Solange. A estudante Eline França Martins, 25 anos, que veio de São Luís, no Maranhão, para estudar em Brasília, se encaixa no perfil. “Sempre procurei universidades grandes e renomadas porque é uma referência para o currículo”, diz. No momento, ela não trabalha. “Estou com o tempo totalmente livre para estudar”, afirma.

APLICAÇÃO - A tese investigou a eficiência de dois indicadores para prever o comportamento de escolha. Um chama-se “valores humanos” e relaciona-se aos princípios que guiam a vida de um indivíduo, como honestidade ou determinação. 

O outro, internacional, são os “axiomas sociais”, como são descritas as crenças das pessoas. O estudo mostrou que a união das duas aumenta a predição do comportamento de escolha de um serviço. O estudo contribui para suprir a lacuna sobre como o consumidor julga um serviço, uma vez que são numerosas as pesquisas sobre escolhas de produtos e escassas as pesquisas que envolvem a escolha de serviços.

Embora o foco tenha sido na educação, o instrumento pode ser empregado em qualquer setor de serviços, ou mesmo de produtos, que deseje ter mais informações sobre o seu público. O setor de serviços representou 55,23% do Produto Interno Bruto brasileiro em 2008 e movimentou R$ 1,53 trilhões.