“Existem duas hipóteses acerca da relação entre remuneração dos auditores e governança das companhias auditadas”, explica Paulo Roberto Matos de Carvalho, graduando do curso de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade de Brasília. Ele é o primeiro estudante da UnB a ganhar o Prêmio Transparência Universitário, promovido pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) desde 2011. Orientado pelo professor José Alves Dantas, Carvalho recebeu o prêmio pelo Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) Relação entre a Remuneração dos Auditores e a Estrutura de Governança Corporativa das Companhias Auditadas.
“A primeira hipótese corresponde ao efeito demanda, em que, quanto melhor a governança, maior a preocupação com a transparência e a qualidade das auditorias e, consequentemente, maior a remuneração do auditor. A segunda é a do efeito risco. Nela, considera-se que quanto melhor a governança da companhia, menor o risco que ela apresenta para uma auditoria. Desta maneira, as remunerações dos auditores seriam menores”, detalha Carvalho. O trabalho foi defendido na UnB no primeiro semestre de 2015 e inscrito no Prêmio na segunda metade do mesmo ano.
Em 2009, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou instrução que obrigava companhias de capital aberto a divulgar, em material intitulado Formulário de Referência, o montante de remuneração dos auditores, discriminando os honorários relativos a serviços de auditoria e a outros trabalhos prestados. Carvalho usou essas informações para fazer sua análise. Extraiu os dados das Demonstrações Financeiras e dos Formulários de Referência de 339 companhias não financeiras listadas na BM&FBovespa, disponíveis no sítio da CVM, referentes ao período de 2009 a 2013. Ao longo de seis meses, montou essa base de dados com mais duas colegas que pretendiam desenvolver o TCC com informações encontradas nos mesmos arquivos.
Carvalho concluiu que, no Brasil, prevalece o efeito demanda. “As companhias tendem a querer serviços de maior qualidade porque prezam pela transparência. E auditorias de maior qualidade são mais caras”, conta. “Essas empresas estão dispostas a pagar mais para ter melhor reputação entre os investidores”, formula. O trabalho de Carvalho destaca-se por apresentar período de análise temporal mais robusto, diferentemente de outras pesquisas que analisaram apenas os dados do ano de 2009. “A base temporal mais ampla forma um painel. Abre novas discussões sobre a remuneração dos auditores”, pondera.
Segundo o professor orientador, José Alves Dantas, o trabalho, que integra um projeto de pesquisa desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), contribuiu para o desenvolvimento da literatura sobre o funcionamento e o comportamento das firmas de auditoria. “É um aspecto ainda pouco explorado na literatura nacional, até pelo fato de que apenas recentemente as informações sobre a remuneração dos auditores passaram a ser divulgadas”, comenta Dantas.
LONDRES – Carvalho e Dantas realizaram viagem técnico-cultural para Londres, no Reino Unido, no final de setembro, como parte da premiação. O intuito foi aproximar os vencedores do ambiente internacional de contabilidade e auditoria independente. A dupla participou de fóruns internacionais de contabilidade e auditoria independente e reuniu-se com representantes de entidades internacionais ligadas à profissão.
“Entendo que prêmios dessa natureza são de grande importância para o incentivo à participação de alunos de graduação no campo da pesquisa científica. Na área contábil, em particular, existem poucas iniciativas do gênero. Espero que sirva de incentivo para outros alunos da nossa Universidade”, diz Dantas.
Os dois visitaram a sede do International Accounting Standards Board (IASB)/IFRS Foundation e participaram da Conferência Anual de Normas Internacionais e dos Organismos Normatizadores Mundiais. A Conferência é um fórum com os responsáveis por estabelecer e emitir normas contábeis em suas jurisdições ao redor do mundo, e tem como um dos objetivos compartilhar experiências no processo de convergência às Normas IFRS (que inclui adoção, implementação e aplicação).
“Era a nata contábil mundial. Não tinha outro estudante, nem outra pessoa da minha idade lá”, descreve Carvalho. “Foi uma sensação única. Vi que me dedicar para fazer um bom trabalho vale à pena. Ter participado dessas reuniões abriu a mente. Deu vontade de explorar mais, alcançar mais”, encerra.
O prêmio também prevê a liberação de cinco licenças do livro eletrônico Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRS) – Edição 2015, para a Universidade, como forma de incentivo ao aprimoramento do ensino.