Objetivo do estudo é mapear os répteis que vivem entre o cerrado e a região amazônica

Foto: Guarino Colli (Reprodução proibida)

Fabricius Domingos, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Brasília, e uma equipe de outros pesquisadores estão desenvolvendo pesquisa ecológica com o objetivo de avaliar os fatores que determinam a evolução de lagartos e os efeitos das mudanças climáticas na transição Cerrado-Amazônia.Para coletar os dados, a equipe, formada por professores e estudantes de várias universidades, percorre oito estados e o Distrito Federal. O pesquisador da UnB é o responsável por sequenciar e analisar os dados genéticos dos répteis.

 

ECÓTONO – O Brasil abriga uma biodiversidade enorme dentro dos seus dois maiores biomas: o Cerrado e a Amazônia. Ambos possuem fauna e flora das mais ricas em todo o planeta, mas são extremamente ameaçadas pela contínua pressão humana sobre seus ecossistemas naturais. Em ecologia, as zonas de transição entre os biomas são chamadas de ecótonos. O compreendido entre o Cerrado e a Amazônia é uma área completamente diversa das encontradas nas regiões centrais tanto do Cerrado (Ecossistema A, na arte abaixo) quanto da Amazônia (Ecossistema B), ou seja, o mosaico de vegetação local é estruturalmente diferente e as relações ecológicas entre os organismos podem funcionar de maneira distinta. Mais ainda, os animais que vivem na zona de transição podem responder de maneiras variadas às mudanças climáticas globais.

 

Equipe investiga as espécies que vivem na região entre o Cerrado (A) e a Amazônia (B). Arte: Divulgação

 

Para estudar a evolução de lagartos no ecótono Cerrado-Amazônia, os pesquisadores desse grupo sequenciaram parte do genoma da espécie Ameiva ameiva (calango verde) de dezenas de populações desses animais e coletaram dados de várias outras espécies animais existentes nas zonas de transição. “Esses dados permitirão testar como é o fluxo gênico de determinada espécie através do ecótono e identificar quais variáveis ambientais (vegetação, temperatura, etc) mais influenciam na movimentação dessa espécie na região”, afirma Fabricius. A equipe também considera importante a observação dos elementos ecofisiológicos das espécies, tais como a temperatura que mais lhes agrada, as temperaturas máximas e mínimas a que determinado animal resiste e a velocidade de movimentação em diferentes temperaturas, entre outras características.

 

As coletas de exemplares de lagartos e dos dados ecofisiológicos são realizadas em diversas localidades ao longo do ecótono Cerrado-Amazônia durante todo o ano. A zona de contato entre os dois biomas possui grande extensão geográfica, percorrendo diversos estados brasileiros, principalmente Mato Grosso, Pará, Tocantins e Maranhão. Contudo, os pesquisadores coletam dados não só no ecótono, mas também em locais típicos do Cerrado (como DF e Goiás) e da Amazônia (Amazonas, Pará e Rondônia). O percurso nessa grande área do território brasileiro é para que seja possível comparar os dados genéticos e fisiológicos dos animais provenientes dessas distintas áreas.

Fabricius Domingos, da UnB, captura répteis para realizar estudos. Foto: Arquivo pessoal

EQUIPE – Além de Fabricius Domingos, participam do estudo a pesquisadora Fernanda Werneck, ex-aluna do curso de Ciências Biológicas e do mestrado em Ecologia da UnB, hoje do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o professor Guarino Colli, também da Universidade de Brasília, e Barry Sinervo, da University of California. A pesquisa conta com a atuação de diversos estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado de todas as instituições envolvidas.

 

Para os pesquisadores, entender a dinâmica das populações e das comunidades animais que vivem nas regiões de transição pode contribuir de maneira decisiva para compreender os efeitos das mudanças climáticas e poder planejar, de maneira eficiente, as estratégias de conservação.

 

A próxima cidade a ser pesquisada é Alta Floresta (MT) e, no meio do ano, os estudos serão realizados na região ao sul do estado do Amazonas (Parque Nacional Campos Amazônicos). Vale ressaltar que os estudos em Brasília (Cerrado) e Nova Xavantina (MT) são constantes, visto que há pesquisadores que trabalham permanentemente nessas localidades.

 

APOIO – A pesquisa de investigação dos lagartos envolve a colaboração de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e University of California (EUA). O projeto é financiado pela United States Agency for International Development (USAID), Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Capes/Procad), CNPq e L'Oréal-Unesco-Academia Brasileira de Ciências Para Mulheres na Ciência.

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