Mandala da Sustentabilidade no Turismo é fruto de trabalho conjunto entre docentes da UnB e da federal do Maranhão

Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

O aclamado título “Destino Sustentável” tem se tornado, cada dia mais, premissa central entre os gestores municipais de turismo, no Brasil e no mundo. Entretanto, quais características fazem um destino turístico efetivamente sustentável?

Com o objetivo de desmistificar a complexidade inerente ao entendimento sobre sustentabilidade no turismo, o professor João Tasso, do Centro de Excelência em Turismo (CET/UnB), em parceria com os professores Elimar Nascimento, do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB), e David Bouças, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), desenvolveram a Mandala da Sustentabilidade no Turismo (MST).

O QUE É – Trata-se de uma ferramenta de planejamento turístico, didática e inovadora, desenvolvida para orientação de grupos gestores territoriais no processo de pensar o desenvolvimento local de forma sustentável.

A MST é composta por 21 indicadores que perpassam sete dimensões da sustentabilidade: social, ambiental, econômica, cultural, territorial, política e tecnológica. “Cada um dos indicadores reflete um caminho a ser trilhado pelo destino turístico em direção à sustentabilidade, seja pela mitigação de problemas ou pelo melhor aproveitamento de oportunidades”, destaca o professor João Tasso.

COMO SURGIU – Esforços contínuos vêm sendo, historicamente, empregados para se reconhecer o grau de sustentabilidade atrelado a diversas práticas turísticas. Exemplos internacionais não faltam.

Na Costa Rica, meios de hospedagem são classificados pelo número de “folhas de sustentabilidade” (iniciativas responsáveis) e não pelas populares “estrelas”. O Conselho Global de Turismo Sustentável (GSTC) criou um instrumento com 38 indicadores para mensuração da sustentabilidade em destinos. A Comissão Europeia desenvolveu um sistema (ETIS) de 67 indicadores de sustentabilidade para destinos turísticos.

Pesquisadores de diversos países têm se dedicado também ao exercício de construção de instrumentos de mensuração da sustentabilidade no turismo, com abordagens cada vez mais específicas e complexas: 85 indicadores para destinos rurais; 88 indicadores para destinos urbanos; 125 indicadores para destinos de turismo comunitário; dentre outros.

Mas o que esses instrumentos têm em comum? A notória dificuldade de operacionalização. Quanto maior for a quantidade sugerida de indicadores em um único instrumento, menor será a capacidade (e a disposição) de gestores locais de buscar por (ou produzir) dados e informações fundamentais ao seu preenchimento.

Tal desafio impulsionou os pesquisadores Tasso, Nascimento e Bouças a desenvolverem um instrumento próprio, de fácil compreensão e operacionalização, com um número reduzido de variáveis e, o principal: considerando as características intrínsecas aos contextos turístico e territorial brasileiros.

O professor João Tasso (canto inferior direito) fala da mandala em live. Imagem: Reprodução

 

COMO FUNCIONA – O processo de aplicação da MST prevê a análise de três indicadores por cada uma das sete dimensões da sustentabilidade. A avaliação de cada um dos 21 indicadores sugeridos é representada por quatro níveis possíveis de classificação, sendo: Nível 1 (demonstra inexistência de ações voltadas à sustentabilidade); Nível 2 (representa a adoção de ações ainda frágeis e/ou insatisfatórias); Nível 3 (atesta o desenvolvimento de ações notórias, porém com limitações e/ou insuficiências); e Nível 4 (simboliza a existência concreta e satisfatória de ações de sustentabilidade).

Por exemplo: um destino que não realiza nenhuma ação de monitoramento e de contenção dos impactos ambientais pelas práticas do turismo (Nível 1), ou que não comprove a existência de saneamento básico (Nível 1), refletirá notórias lacunas nas dimensões ambiental e social da sustentabilidade, respectivamente. Por outro lado, caso mais de 75% dos trabalhadores do setor de turismo possuam contratos efetivos segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), prevendo direitos fundamentais (Nível 4), o mesmo destino demonstrará relevante contribuição na dimensão econômica da sustentabilidade.

 

O professor João Tasso esclarece que “no processo de avaliação de cada indicador proposto, a coerência dos resultados está condicionada à garantia de efetiva participação de representantes das comunidades locais, do setor produtivo, do poder público, do terceiro setor e de demais atores locais do turismo”.

Ao final do preenchimento da Mandala, com informações e dados do território, grupos gestores de destinos turísticos terão a capacidade de reconhecer, por meio de uma representação ilustrativa, quais as principais lacunas e a intensidade dos problemas evidenciados em cada dimensão.

Dessa forma, as decisões quanto ao direcionamento de recursos públicos poderão ser mais acertadas e eficazes, propiciando um processo de planejamento turístico local pautado na sustentabilidade e na ética com vistas ao bem comum.

Cabe ressaltar que o instrumento está em fase de testes e faz parte de um processo em constante desenvolvimento, podendo ser modificado e adaptado a novas e diferentes realidades.

 

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