William Phillips explicou didaticamente como sua experiência com átomos contribuiu para melhorar relógios e computadores.

Olhar o átomo com maior precisão era o sonho de muitos físicos no final dos anos 70. Duas décadas mais tarde, William Phillips e seus colegas Cohen-Tannoudji e Steven Chu tornaram o sonho realidade. Mostrando como isso foi possível valendo-se de grande facilidade de comunicação e bom humor, Phillips fez alunos do ensino fundamental, médio, estudantes de Física e professores da UnB desfrutarem uma hora de deslumbramento na manhã desta segunda-feira.


A descoberta que deu o Nobel a Dr. William e a seus dois colegas no final do século passado e encantou o público, parece coisa simples aos olhos de hoje. O que eles fizeram foi resfriar os átomos a temperaturas tão baixas que desaceleram seu movimento, permitindo analisá-los e manipulá-los. Vanderlei Bagnato, professor titular de Física da Universidade de São Paulo (USP), uma das 400 pessoas que se acotovelavam na platéia, comparou o experimento a olhar um quadro no museu. “Se você tem pouco tempo, identifica o autor e pouca coisa mais. Se você tem muito tempo, pode notar detalhes que passariam despercebidos”, relacionou.


Diante do público, Phillips colocou vários balões de festa cheios de ar dentro de um pequeno recipiente de isopor com nitrogênio líquido. Os balões diminuíam de volume e retomavam o tamanho normal em contato com a temperatura ambiente. “Isso acontece porque os átomos em temperatura muito baixa perdem velocidade. Esse é o mesmo princípio aplicado na pesquisa que fizemos”, explicou o cientista. Segundo o professor, com a desaceleração dos átomos, eles tendem a ficar mais próximos uns dos outros.


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ÁTOMOS - 
A descoberta tem aplicações que vão muito além da Física. Por exemplo, um relógio comum perde precisão de 30 segundos em um ano, enquanto um relógio atômico perde os mesmos 30 segundos de exatidão em um milhão de anos. Isso acontece porque os átomos vibram em frequências específicas. Todos os átomos de um mesmo tipo “vibram” numa mesma frequência. Além de melhores relógios, podem ser feitos testes para uma melhor compreensão da natureza, computadores quânticos, simulações quânticas e muito mais.


As temperaturas para a análise dos átomos impressionam. Elas são um milhão de vezes mais frias que a do nitrogênio líquido e quatro milhões de vezes menores que a do espaço. Isso reduz a velocidade dos átomos de 200 metros por segundo para 1 centímetro por segundo.


Gisele Camargo, professora de Física do ensino médio da Escola das Nações, falou sobre a importância de aulas práticas como a do professor Phillips. “O Brasil precisa cada vez mais que jovens se interessem por ciência”, comentou ela. “Eles descobrem como a ciência pode ser divertida, quando veem na prática, como ela funciona”, acrescentou.


Paulo Ferreira, aluno do sexto semestre de Física, também elogiou a didática de Phillips. “Ele segue a linha de Richard Feynman, que dizia que você só compreende realmente uma questão científica quando pode explicá-la para uma criança de 10 anos”, afirmou o estudante, que se interessa pelas mesmas áreas estudadas por Phillips. “Quero me especializar em Física de baixas temperaturas e Ótica quântica”, disse.


O professor Phillips veio ao Brasil a convite do CNPq, em comemoração aos 60 anos da instituição. Participaram do evento Manoel Barral, diretor de Cooperação Internacional do CNPq e João Batista de Sousa, vice-reitor da UnB. Ambos deram as boas-vindas ao cientista norte-americano.