Ex-aluno da UnB, Eduardo do Couto e Silva contou como participou do desenvolvimento de novo telescópio na Universidade de Stanford.

Quando começou a falar aos alunos da Universidade de Brasília sobre astrofísica, supernovas e mistérios do universo, o pesquisador Eduardo do Couto e Silva, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, fez uma proposta: “Quem começar a sentir sono no meio da palestra pode levantar a mão”. Durante uma hora de exposição ninguém ergueu o braço, a não ser para fazer perguntas.


Ex-aluno da UnB, Eduardo inspirou e emocionou os alunos ao contar a história de sua contribuição na equipe do SLAC National Acelerator Laboratory, administrado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que desenvolveu o telescópio Fermi lançado pela NASA ao espaço, em 2008. Ao possibilitar a produção de imagens mais nítidas do universo, o satélite ampliou o conhecimento sobre os raios gama, que estão associados a fenômenos ainda pouco compreendidos pela ciência.


Os raios gama são frequências de luz que humanos não conseguem ver a olho nu. “Essa radiação tem muita energia e atravessa a matéria sem ser refletida, por isso é muito difícil de detectar. Ela raramente chega à superfície. Daí porque precisamos de satélites para medi-la”, explica. Eduardo conta que até o lançamento do Fermi era muito difícil saber a direção de onde o raio veio, sua energia e quanto tempo demorou para chegar à Terra. “As tecnologias disponíveis até então permitiam produzir apenas imagens difusas da distribuição dos raios gama no universo”, lembra.


Em Stanford, o pesquisador ajudou a desenvolver tecnologia inovadora para identificar raios gama vindos de vários pontos do universo. A experiência acumulada em anos de estudo com detectores de silício, utilizado para estudar partículas subatômicas, foi determinante para que Eduardo fosse chamado para integrar a equipe do SLAC National Acelerator Laboratory, em 1999. A experiência foi adquirida, principalmente, em instituições europeias e americanas conhecidas internacionalmente.


Para mapear a trajetória dos raios gama, a equipe de Stanford apostou em um princípio conhecido por meio da teoria da relatividade geral, desenvolvida por Albert Einstein. Os pesquisadores converteram os raios gama em matéria. Para isso, usaram placas de tungstênio, que é um material com alta densidade. “Quando os raios atravessam as placas acabam se convertendo em partículas de matéria e anti-matéria” explica Eduardo. Foi aí que o conhecimento do professor fez diferença. “Usamos os detectores de silício acoplados as placas para saber a trajetória das partículas, o que permitiu conhecer com precisão a região do espaço de onde os raios foram emitidos”.

A tecnologia abriu caminho para conhecer melhor fenômenos ainda misteriosos. Entre eles, as explosões de raios gama: emissões imensas de energia que iluminam o universo em poucos segundos. O telescópio Fermi identifica, em média, um fenômeno como esse por dia. Uma hipótese bastante aceita pelos cientistas atualmente é a de que a energia é liberada pelo choque entre uma estrela de nêutrons e um buraco negro. Outra diz que a explosão surge do colapso de determinada estrela.


LIÇÕES –
 Além das lições de astronomia o pesquisador encorajou os estudantes a não desanimarem diante das dificuldades do início da carreira. “Uma dica importante é que não existe pergunta burra. Aproveitem os professores para esclarecer tudo que vocês não entendem”, recomendou o pesquisador, que conviveu com grandes nomes da física mundial. “Não sou gênio, sou esforçado. Tive oportunidade de conviver com pessoas muito mais inteligentes que eu e isso nunca me desanimou”, contou.


Para Eduardo, a ciência brasileira está vivendo um bom momento e isso deve ser aproveitado. “A carreira científica é apaixonante, e esse é o melhor momento para se fazer ciência no Brasil”, disse. “Estamos crescendo muito rápido, o Brasil não tem saída a não ser investir pesado em ciência e educação”, afirmou o especialista que voltou à Brasília depois de anos fazendo pesquisa no exterior e agora estuda a inserção dos físicos na indústria.