Pesquisa da Universidade de Brasília constatou a precariedade da saúde bucal de idosos. Nove em cada dez dos 147 pacientes avaliados apresentaram lesões bucais, como infecções causadas por fungos e bactérias. Sete em cada dez amostrados usam dentadura. Alguns estão com a mesma prótese dentária há mais de 30 anos e em péssimas condições de higiene.
Os idosos que sofrem de osteoporose devem ficar atentos, porque precisam de mais cuidados com a higiene bucal. Eles usam um medicamento que pode ser um fator de risco para o desenvolvimento da osteonecrose bucal, doença causada pela morte de osso da mandíbula ou maxilar.
Segundo a pesquisadora Ana Luiza Rego Julio, os idosos precisam de atendimento odontológico diferenciado. “São pacientes com uma higiene inadequada e condição bucal precária. Usam dentadura em mal estado, têm língua fissurada, úlcera bucal gerada por trauma”, diz.
Para a orientadora do estudo, a professora da Faculdade de Saúde Nilce Santos de Melo, às vezes, os problemas são gerados por pura desinformação. O idoso conta que usa a mesma dentadura há 30 anos com orgulho, como se fosse um indício de bom estado de conservação. “Essas próteses precisam ser trocadas em, no máximo, cinco anos”, esclarece a professora.
O ESTUDO – A dissertação de mestrado Avaliação das condições da mucosa oral em mulheres na pós-menopausa e em homens acima dos 60 anos, defendida em fevereiro de 2009, levantou os prováveis fatores de risco que levam ao desenvolvimento da osteonecrose. A doença, causada pela morte de osso bucal, deixa a região exposta às inflamações, gerando desconforto, ardência e dor.
A doença bucal é grave, mas tem baixa incidência na população. Segundo estudo feito na Austrália, a frequência estimada em pacientes que fazem uso de bisfosfonatos de sódio, substância para tratamento de osteoporose, e foram submetidos à extração dentária está entre 0,09% e 0,34%.
Segundo a orientadora da pesquisa, a professora da Faculdade de Saúde Nilce Santos de Melo, é fundamental conhecer a situação bucal dos idosos antes do tratamento para osteoporose. “Pacientes que fazem uso prolongado dessa medicação e passam por processos cirúrgicos na boca ou usam próteses podem ter um fator de risco aumentado para desenvolver a osteonecrose”, diz.
Para ela, as políticas públicas de saúde odontológica deveriam ser ampliadas e focadas nesse público. “É uma população que toma vários medicamentos, que usa prótese e apresenta lesões. Não pode ficar desassistida”, defende.
METODOLOGIA – A pesquisa fez uma avaliação odontológica de 147 pacientes. Foram 87 mulheres e 60 homens com mais de 60 anos, atendidos pelo Programa de Prevenção e Diagnóstico da Osteoporose da Secretaria de Saúde do DF. A pesquisadora fez uma avaliação odontológica deles com exame clínico e realização de radiografia.
Para a coordenadora do Programa de Prevenção e Diagnóstico da Osteoporose no HUB, Ana Patrícia de Paula, o bisfosfonato de sódio é uma das melhores medicações para o tratamento da osteoporose. Só no DF, mais de duas mil pessoas usam a substância e não é necessário assustar a população.
“Não há uma evidência de correlação entre a doença e o medicamento. A gente não contra-indica a cirurgia odontológica nem interrompe o tratamento, mas se ele for fazer uma cirurgia, o dentista precisa saber que ele faz uso da substância”, afirma.