Estudo da UnB avaliou condições do solo no Plano Piloto. Na Asa Norte, dados são inéditos.

A ocupação do subsolo é uma tendência nas grandes cidades, especialmente como forma de conter problemas no trânsito, solucionar a falta de vagas e garantir transporte público eficiente. Com uma frota que já ultrapassa 1 milhão de veículos e uma população de mais de 2 milhões de habitantes, essa também parece ser a solução para a capital brasileira, de acordo com um estudo realizado na Universidade de Brasília.


Intitulado Cartografia Geotécnica para Obras Subterrâneas: Condições de Construções de Garagens Subterrâneas e Metrô no Plano Piloto de Brasília, o trabalho apresenta o mapeamento do subsolo de Brasília. “O objetivo é permitir o planejamento da ocupação do espaço subterrâneo”, explica Paola Cristina Alves, autora da pesquisa. O subsolo da Asa Norte ainda não havia sido avaliado dessa maneira.


A dissertação de mestrado, defendida em 25 de maio, foi desenvolvida a partir de um banco de dados digital, que possui cerca de 1,8 mil sondagens geotécnicas. As informações foram transformadas em maquetes virtuais em 3D que mostravam as características do solo, importantes para avaliar as condições de escavação das áreas.


A pesquisa apontou diferentes graus de adequabilidade à escavação em cada local. Os mapas apontam índices de resistência do solo para as profundidades de 3, 6, 9, 12, 15, 20 e 30 metros. "Obtivemos também mapas da espessura das diferentes camadas do solo, de profundidade do topo rochoso e do nível de água das áreas. Todos os dados resultaram em cartas geotécnicas para orientar a construção de obras subterrâneas na cidade”, conta Paola. Com os resultados obtidos, a pesquisadora afirma que o subsolo de Brasília é, de modo geral, adequado à ocupação.


O estudo mostra que a utilização do espaço subterrâneo para a construção de garagens, bem como para a extensão da linha metroviária, pode ser uma alternativa eficiente para melhorar o trânsito na cidade. O governo já anunciou a implantação de um Veículo Leve sob Trilhos (VLT), no canteiro central da via W3, a extensão da linha do metrô até o fim da Asa Norte, e a autorização para construção de garagens subterrâneas.


CONHECIMENTO –
De acordo com o orientador do trabalho, professor Newton Moreira de Souza, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, para que o espaço subterrâneo possa ser ocupado adequadamente, é importante conhecer suas características.


Segundo ele, o conhecimento das propriedades geotécnicas permite que as obras subterrâneas sejam planejadas de forma a garantir menor custo e menos tempo de execução, sem danos à segurança e ao meio ambiente, especialmente à água subterrânea. Áreas classificadas como “muito adequadas” são locais onde os recursos necessários à implantação são os mais simples e baratos. Aquelas “não adequadas” requerem maior cuidado e exigem recursos construtivos complexos e onerosos.


Na área estudada – Plano Piloto –, a pesquisa não apontou nenhuma área como “não adequada”. De acordo com o professor, “Asa Norte e Asa Sul, de forma geral, são adequadas para a construção de obras subterrâneas. Mas as zonas sul e central da cidade permitem escavações mais profundas que a norte, com garagens de até quatro pavimentos”. As sondagens também são importantes para obras na superfície, como o VLT. “Elas permitem avaliar previamente como deverão ser as fundações das vias por onde o veículo irá passar”, diz.


VIABILIDADE –
Newton Souza diz que as garagens planejadas para resolver o problema da falta de vagas no Setor Comercial Sul são viáveis, embora o melhor local para esse tipo de construção seja o canteiro central da Esplanada dos Ministérios. “Embaixo do espaço onde ficaria a Praça da Soberania, de Oscar Niemeyer, existe uma área muito adequada para estacionamentos subterrâneos. Seria possível atender a todos os ministérios, sem prejuízo da arquitetura, que é tombada”.


O docente explica que, mesmo próximas a edifícios, as escavações podem ser feitas. “É possível, mas custa mais caro. As adequabilidades levantadas no estudo dizem respeito às condições naturais dos terrenos, mas também levam em conta possíveis custos em função do local da obra, considerando se há construções superficiais vizinhas”, explica Newton.


O estudo revela que áreas que possuem solo pouco resistente são mais propícias à construção de garagens. “No caso de garagens, quanto menos resistente o solo, mais fácil é a escavação, desde que ele tenha uma coesão mínima, como acontece com os solos de Brasília. No caso do metrô, quanto mais resistente melhor, porque gera menos custo em sustentação da parede e do teto do túnel. Por isso, fiz mapas separados para as garagens e para o metrô”, conta a autora da pesquisa.


Paola e o professor Newton não planejam apresentar o estudo ao GDF, mas acreditam que os dados podem ser importantes para o governo definir ações de ocupação do espaço subterrâneo da cidade. “Já não há mais espaço em Brasília, então, vamos explorar o espaço subterrâneo, já que o solo permite”, diz Paola. “O fato de podermos explorar o subsolo nos permite conservar a boa qualidade de vida da superfície”, reforça o professor.