Com experimentos e peças antigas, mostra permanente do Observatório Sismológico incentiva, de forma criativa, aprendizado de alunos de escolas do Distrito Federal

 

Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Quando tremores de terra são sentidos no Brasil ou registrados em outras partes do mundo, muita gente fica interessada em saber do que se trata, como ocorrem e quais as causas desses fenômenos, sobretudo quando resultam em grandes desastres. E se todas essas explicações pudessem ser dadas de forma prática e interativa? Foi com intuito de viabilizar essa ideia que um pequeno acervo mantido no Observatório Sismológico (SIS) da Universidade de Brasília se transformou em um museu. A Mostra Sismológica reúne aproximadamente 300 peças, entre maquetes, ilustrações, vídeos, equipamentos antigos com capacidade de detecção de sismos, além de experimentos desenvolvidos por professores, utilizados para demonstrar a formação e os métodos de registro de terremotos.

 

Abrir as portas do conhecimento científico à comunidade, sobretudo a estudantes dos ensinos Fundamental e Médio, é uma das tarefas que a equipe do SIS quer realizar com o museu. E, pelos números, a meta tem sido alcançada com sucesso. A quantidade varia, mas em períodos em que terremotos com magnitude considerável são noticiados, cerca de 800 alunos de escolas do Distrito Federal são recebidos no local mensalmente, por meio de visitações agendadas e guiadas. Essa é uma das conquistas comemoradas pelo professor da UnB responsável pela mostra, George Sand, já que anteriormente o espaço não funcionava de forma contínua. “É um grande avanço, porque temos condições de atender uma demanda muito fraca no país, que é a da educação científica”, argumenta o professor.

 

Sand explica que, no museu, os visitantes conhecem um pouco mais sobre os terremotos, de forma que despertem o interesse para estudar o assunto.“O museu é onde a população consegue chegar perto da ciência. Quando você consegue mostrar para as pessoas como é a dinâmica da Terra, isso instiga ainda mais a curiosidade para que elas possam entender esse processo”, acredita Sand.

 

Infográfico: Design/Secom UnB

 

Durante a visita, além de descobrirem como os terremotos funcionam e entenderem um pouco mais sobre a formação geológica da terra e os movimentos das placas tectônicas, os alunos passam por uma aula diferenciada. É que, além do acervo físico e visual, dois experimentos possibilitam uma experiência sensorial com o fenômeno. Um deles é o barulhômetro, simulador sonoro criado pelos professores do SIS que permite não só ouvir, como também sentir o barulho de um abalo sísmico. Os estudantes também são convidados a testar a sensibilidade do sismômetro ao captar digitalmente os sinais até mesmo de pequenos impactos no solo, quando, por exemplo, uma pessoa pula ao lado do equipamento.

 

Entre tantos instrumentos interessantes que integram o museu, o professor George Sand e os colegas do Observatório Sismológico ainda querem realizar o sonho de desenvolver um experimento inovador: um simulador veicular. Trata-se de um carro capaz de simular, em seu interior, os tremores de um terremoto. Além de utilizado na mostra, o projeto circularia de forma itinerante para demonstração.

 

APRENDIZADO - O método de ensino interativo do museu atraiu bastante a atenção de estudantes como Júlia Trindade, que cursa o 8º ano em uma escola da rede privada. Descobrir como as placas tectônicas se movem e poder ouvir o barulho do terremoto foram, para ela, experiências incríveis. “Eu achei muito interessante, porque ensinou tudo sobre as placas. Tinha algumas coisas que eu não sabia e que aprendi lá muito mais aprofundado do que estudei na escola”, comenta Júlia.

 

Alunos aprendem de forma interativa um pouco mais sobre os terremotos. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

Mas o aprendizado não é só para as crianças: estudantes de graduação do Instituto de Geociências (IG) também aprendem ao se tornarem monitores do museu. Matheus Figueiredo, graduando do curso de Geologia, é um dos guias da mostra e quer se tornar professor. Ele acredita que a oportunidade não só proporciona um contato maior com alunos de escolas, mas também aponta outros caminhos para o ensino. “Se eu tivesse isso na minha infância ajudaria a me focar mais nos estudos, já que são atividades fora das salas de aula”, destaca Figueiredo.

 

HISTÓRICO - Foi pelas mãos do ex-professor do IG José Alberto Veloso que a Mostra Sismológica ganhou vida. Em 1997, ao reunir materiais doados de outras instituições, entre equipamentos antigos e outras peças de acervo, além de quadros ilustrativos preparados pelos próprios professores, modelos geológicos importados e sismógrafo demonstrativo, uma pequena mostra já se instalava no SIS. Apesar do espaço reduzido, foi com criatividade que a ideia saiu do papel. Duas arquitetas projetaram o design da sala que receberia o acervo, enquanto professores se encarregaram da organização dos instrumentos e materiais que integrariam a exposição, até a inauguração no dia 1º de julho daquele ano. Anos depois, a mostra, que recebia um público restrito, ganhou caráter permanente.